quarta-feira, 8 de novembro de 2017

domingo, 10 de setembro de 2017

Immanuel Kant e o Imperativo Categórico.



Natureza humana e dever
O cristianismo introduz a ideia do dever para resolver um problema ético, qual seja, oferecer um caminho seguro para nossa vontade, que, sendo livre, mas fraca, sente-se dividida entre o bem e o mal. No entanto, essa ideia cria um problema novo. Se o sujeito moral é aquele que encontra em sua consciência (vontade, razão, coração) as normas da conduta virtuosa, submetendo-se apenas ao bem, jamais submetendo-se a poderes externos à consciência, como falar em comportamento ético por dever? Este não seria o poder externo de uma vontade externa (Deus), que nos domina e nos impõe suas leis, forçando-nos a agir em conformidade com regras vindas de fora de nossa consciência?
Em outras palavras, se a ética exige um sujeito autônomo, a ideia de dever não introduziria a heteronomia, isto é, o domínio de nossa vontade e de nossa consciência por um poder estranho a nós?
Um dos filósofos que procuraram resolver essa dificuldade foi Rousseau, no século XVIII. Para ele, a consciência moral e o sentimento do dever são inatos, são “a voz da Natureza” e o “dedo de Deus” em nossos corações. Nascemos puros e bons, dotados de generosidade e de benevolência para com os outros. Se o dever parece ser uma imposição e uma obrigação externa, imposta por Deus aos humanos, é porque nossa bondade natural foi pervertida pela sociedade, quando esta criou a propriedade privada e os interesses privados, tornando-nos egoístas, mentirosos e destrutivos.
O dever simplesmente nos força a recordar nossa natureza originária e, portanto, só em aparência é imposição exterior. Obedecendo ao dever (à lei divina inscrita em nosso coração), estamos obedecendo a nós mesmos, aos nossos sentimentos e às nossas emoções e não à nossa razão, pois esta é responsável pela sociedade egoísta e perversa. Uma outra resposta, também no final do século XVIII, foi trazida por Kant. Opondo-se à “moral do coração” de Rousseau, Kant volta a afirmar o papel da razão na ética. Não existe bondade natural. Por natureza, diz Kant, somos egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos de prazeres que nunca nos saciam e pelos quais matamos, mentimos, roubamos. É justamente por isso que precisamos do dever para nos tornarmos seres morais.
A exposição kantiana parte de duas distinções:
1. a distinção entre razão pura teórica ou especulativa e razão pura prática;
2. a distinção entre ação por causalidade ou necessidade e ação por finalidade ou liberdade.
Razão pura teórica e prática são universais, isto é, as mesmas para todos os homens em todos os tempos e lugares – podem variar no tempo e no espaço os conteúdos dos conhecimentos e das ações, mas as formas da atividade racional de conhecimento e da ação são universais. Em outras palavras, o sujeito, em ambas, é sujeito transcendental, como vimos na teoria do conhecimento. A diferença entre razão teórica e prática encontra-se em seus objetos. A razão teórica ou especulativa tem como matéria ou conteúdo a realidade exterior a nós, um sistema de objetos que opera segundo leis necessárias de causa e efeito, independentes de nossa intervenção; a razão prática não contempla uma causalidade externa necessária, mas cria sua própria realidade, na qual se exerce.
Essa diferença decorre da distinção entre necessidade e finalidade/liberdade.
A Natureza é o reino da necessidade, isto é, de acontecimentos regidos por sequências necessárias de causa e efeito – é o reino da física, da astronomia, da química, da psicologia. Diferentemente do reino da Natureza, há o reino humano da práxis, no qual as ações são realizadas racionalmente não por necessidade causal, mas por finalidade e liberdade.
A razão prática é a liberdade como instauração de normas e fins éticos. Se a razão prática tem o poder para criar normas e fins morais, tem também o poder para impô-los a si mesma. Essa imposição que a razão prática faz a si mesma daquilo que ela própria criou é o dever. Este, portanto, longe de ser uma imposição externa feita à nossa vontade e à nossa consciência, é a expressão da lei moral em nós, manifestação mais alta da humanidade em nós. Obedecê-lo é obedecer a si mesmo. Por dever, damos a nós mesmos os valores, os fins e as leis de nossa ação moral e por isso somos autônomos.
Resta, porém, uma questão: se somos racionais e livres, por que valores, fins e leis morais não são espontâneos em nós, mas precisam assumir a forma do dever?
Responde Kant: porque não somos seres morais apenas. Também somos seres naturais, submetidos à causalidade necessária da Natureza. Nosso corpo e nossa psique são feitos de apetites, impulsos, desejos e paixões. Nossos sentimentos, nossas emoções e nossos comportamentos são a parte da Natureza em nós, exercendo domínio sobre nós, submetendo-se à causalidade natural inexorável. Quem se submete a eles não pode possuir a autonomia ética.
A Natureza nos impele a agir por interesse. Este é a forma natural do egoísmo que nos leva a usar coisas e pessoas como meios e instrumentos para o que desejamos. Além disso, o interesse nos faz viver na ilusão de que somos livres e racionais por realizarmos ações que julgamos terem sido decididas livremente por nós, quando, na verdade, são um impulso cego determinado pela causalidade natural. Agir por interesse é agir determinado por motivações físicas, psíquicas, vitais, à maneira dos animais.
Visto que apetites, impulsos, desejos, tendências, comportamentos naturais costumam ser muito mais fortes do que a razão, a razão prática e a verdadeira liberdade precisam dobrar nossa parte natural e impor-nos nosso ser moral. Elas  o fazem obrigando-nos a passar das motivações do interesse para o dever. Para sermos livres, precisamos ser obrigados pelo dever de sermos livres.
Assim, à pergunta que fizemos no capítulo anterior sobre o perigo da educação ética ser violência contra nossa natureza espontaneamente passional, Kant responderá que, pelo contrário, a violência estará em não compreendermos nossa destinação racional e em confundirmos nossa liberdade com a satisfação irracional de todos os nossos apetites e impulsos. O dever revela nossa verdadeira natureza.
O dever, afirma Kant, não se apresenta através de um conjunto de conteúdos fixos, que definiriam a essência de cada virtude e diriam que atos deveriam ser praticados e evitados em cada circunstância de nossas vidas. O dever não é um catálogo de virtudes nem uma lista de “faça isto” e “não faça aquilo”. O dever é uma forma que deve valer para toda e qualquer ação moral.
Essa forma não é indicativa, mas imperativa. O imperativo não admite hipóteses (“se... então ”) nem condições que o fariam valer em certas situações e não valer em outras, mas vale incondicionalmente e sem exceções para todas as circunstâncias de todas as ações morais. Por isso, o dever é um imperativo categórico. Ordena incondicionalmente. Não é uma motivação psicológica, mas a lei moral interior.
O imperativo categórico exprime-se numa fórmula geral: Age em conformidade apenas com a máxima que possas querer que se torne uma lei universal. Em outras palavras, o ato moral é aquele que se realiza como acordo entre a vontade e as leis universais que ela dá a si mesmo.
Essa fórmula permite a Kant deduzir as três máximas morais que exprimem a incondicionalidade dos atos realizados por dever. São elas:
1. Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei universal da Natureza;
2. Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca como um meio;
3. Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os seres racionais.

A primeira máxima afirma a universalidade da conduta ética, isto é, aquilo que todo e qualquer ser humano racional deve fazer como se fosse uma lei inquestionável, válida para todos e em todo tempo e lugar. A ação por dever é uma lei moral para o agente.
A segunda máxima afirma a dignidade dos seres humanos como pessoas e, portanto, a exigência de que sejam tratados como fim da ação e jamais como meio ou como instrumento para nossos interesses.
A terceira máxima afirma que a vontade que age por dever institui um reino humano de seres morais porque racionais e, portanto, dotados de uma vontade legisladora livre ou autônoma. A terceira máxima exprime a diferença ou separação entre o reino natural das causas e o reino humano dos fins.
O imperativo categórico não enuncia o conteúdo particular de uma ação, mas a forma geral das ações morais. As máximas deixam clara a interiorização do dever, pois este nasce da razão e da vontade legisladora universal do agente moral. O acordo entre vontade e dever é o que Kant designa como vontade boa que quer o bem.
O motivo moral da vontade boa é agir por dever. O móvel moral da vontade boa é o respeito pelo dever, produzido em nós pela razão. Obediência à lei moral, respeito pelo dever e pelos outros constituem a bondade da vontade ética.
O imperativo categórico não nos diz para sermos honestos, oferecendo-nos a essência da honestidade; nem para sermos justos, verazes, generosos ou corajosos a partir da definição da essência da justiça, da verdade, da generosidade ou da coragem. Não nos diz para praticarmos esta ou aquela ação determinada, mas nos diz para sermos éticos cumprindo o dever (as três máximas morais). É este que determina por que uma ação moral deverá ser sempre honesta, justa, veraz, generosa ou corajosa. Ao agir, devemos indagar se nossa ação está em conformidade com os fins morais, isto é, com as máximas do dever.
Por que, por exemplo, mentir é imoral? Porque o mentiroso transgride as três máximas morais. Ao mentir, não respeita em sua pessoa e na do outro a humanidade (consciência, racionalidade e liberdade), pratica uma violência escondendo de um outro ser humano uma informação verdadeira e, por meio do engano, usa a boa-fé do outro. Também não respeita a segunda máxima, pois se a mentira pudesse universalizar-se, o gênero humano deveria abdicar da razão e do conhecimento, da reflexão e da crítica, da capacidade para deliberar e escolher, vivendo na mais completa ignorância, no erro e na ilusão.
Por que um político corrupto é imoral? Porque transgride as três máximas. Por que o homicídio é imoral? Porque transgride as três máximas.

As respostas de Rousseau e Kant, embora diferentes, procuram resolver a mesma dificuldade, qual seja, explicar por que o dever e a liberdade da consciência moral são inseparáveis e compatíveis. A solução de ambos consiste em colocar o dever em nosso interior, desfazendo a impressão de que ele nos seria imposto de fora por uma vontade estranha à nossa.

sábado, 9 de setembro de 2017

A TEORIA ÉTICA UTILITARISTA

Segundos Anos




TEORIA ÉTICA CONSEQUENCIALISTA
 As consequências de uma ação é que determinam se é moralmente correta ou incorreta.

TEORIA ÉTICA HEDONISTA

Todas as atividades humanas têm um objetivo último, isto é, são meios para uma finalidade que é o ponto de convergência de todas. Esse fim é a felicidade ou bem-estar. Mais propriamente procuramos em todas as atividades a que nos dedicamos viver experiências aprazíveis e evitar experiências dolorosas ou desagradáveis. Esta perspectiva que identifica a felicidade com o prazer ou o bem-estar tem o nome de hedonismo. Mas trata – se da felicidade geral e não da individual.

O CRITÉRIO DA MORALIDADE DE UMA AÇÃO

Segundo Mill a utilidade é o que torna uma ação moralmente valiosa. O critério da moralidade de um ato é o princípio de utilidade. Este princípio é o teste da moralidade das ações. Uma ação deve ser realizada se e só se dela resultar a máxima felicidade possível para as pessoas ou as partes que por ela são afetadas. O princípio de utilidade é por isso conhecido também como princípio da maior felicidade. A ideia central do utilitarismo é a de que devemos agir de modo a que da nossa ação resulte a maior felicidade ou bem - estar possível para as pessoas por ela afetadas. Uma ação boa é a que é mais útil, ou seja, a que produz mais felicidade global ou, dadas as circunstâncias, menos infelicidade. Quando não é possível produzir felicidade ou prazer devemos tentar reduzir a infelicidade. Costuma-se resumir o princípio de utilidade mediante a fórmula «A maior felicidade para o maior número». Esta fórmula foi cunhada por Francis Hutchinson e não aparece tal e qual nos escritos de Mill.


MORALMENTE INCORRETO ou MORALMENTE CORRETO

Ação moralmente incorreta

A ação que tem más consequências ou dadas as circunstâncias piores consequências do que ações alternativas.

O que é uma ação com más consequências?

- Ação cujos resultados não contribuem para um aumento da felicidade (bem – estar) ou diminuição da infelicidade do maior número possível de pessoas por ela afetadas.

- Ação egoísta em que a felicidade do maior número não é tida em conta ou em que só o meu bem – estar ou satisfação é procurado.

- Ação que não se subordina ao princípio de utilidade.


Ação moralmente correta

A ação que tem boas consequências ou dadas as circunstâncias melhores consequências do que ações alternativas.

O que é uma ação com boas consequências?

-Ação cujos resultados contribuem para um aumento da felicidade (bem – estar) ou diminuição da infelicidade do maior número possível de pessoas por ela afetadas.

- Ação subordinada ao princípio de utilidade.


NÃO HÁ DEVERES ABSOLUTOS

Para o utilitarista as ações são moralmente corretas ou incorretas conforme as consequências: se promovem imparcialmente o bem-estar são boas. Isto quer dizer que não há ações intrinsecamente boas. Só as consequências as tornam boas ou más. Assim sendo, não há, para o utilitarista, deveres que devam ser respeitados sempre e em todas as circunstâncias. Se para a ética kantiana, alguns atos como matar, roubar ou mentir são absolutamente proibidos mesmo que as consequências sejam boas, para Mill justifica-se, por vezes, matar, deixar morrer, roubar ou mentir.


O PRINCÍPIO DE UTILIDADE E AS NORMAS MORAIS VIGENTES


As normas morais comuns estão em vigor em muitas sociedades por alguma razão. Resistiram à prova do tempo e em muitas situações fazemos bem em segui-las nas nossas decisões. Contudo, não devem ser seguidas cegamente. Nas nossas decisões morais devemos ser guiados pelo princípio de utilidade e não pelas normas ou convenções socialmente estabelecidas. Dizer a verdade é um ato normalmente mais útil do que prejudicial e por isso a norma «Não deves mentir» sobreviveu ao teste do tempo. Segui-la é respeitar a experiência de séculos da humanidade. Mas há situações como em que não respeitar absolutamente uma determinada norma moral e seguir o princípio de utilidade terá melhores consequências globais do que respeitá–la.


FELICIDADE GERAL E FELICIDADE INDIVIDUAL


A minha felicidade não é mais importante do que a felicidade dos outros. O utilitarismo de Mill não defende que tenhamos de renunciar à nossa felicidade, a uma vida pessoal em nome da felicidade do maior número. Trata-se através da educação segundo o princípio de utilidade de abrir um espaço amplo para que a inclinação para o bem geral se sobreponha com frequência cada vez maior ao egoísmo. O princípio da maior felicidade em Mill exige que cada indivíduo se habitue a não separar a sua felicidade da felicidade geral sem deixar de ter projetos, interesses e vida pessoal.


UM EXEMPLO ILUSTRATIVO DA TEORIA ÉTICA DE MILL


Imagine que um grupo de terroristas se apodera de um avião em Berlim. Os seus passageiros e tripulantes ficam reféns. Contudo, os terroristas propõem libertá-los se um cidadão local que eles consideram envolvido em atividades antiterroristas lhes for entregue para ser morto. Se as autoridades da cidade não colaborarem no prazo de quatro horas ameaçam fazer explodir o aparelho com todas as pessoas lá dentro. As autoridades locais sabem que o cidadão em causa não cometeu o menor crime durante a sua vida e que os terroristas estão enganados, pois não participou na morte de membros do grupo que agora dele se quer vingar. Não obstante, sabem que será vã a tentativa de convencer os terroristas de que estão enganados. Após longa deliberação decidem entregar o referido cidadão aos terroristas que libertam os reféns e matam quem queriam matar.


Posição de Mill
Ação moralmente correta


Justificação

Há que ter em conta a ação que produziria mais felicidade global. O que produz mais infelicidade? Deixar morrer um inocente ou deixar eventualmente morrer dezenas de inocentes? Quantas famílias não ficariam enlutadas caso não se cedesse às pretensões dos terroristas? Para Mill justifica-se, por vezes, matar, deixar morrer, roubar ou mentir. Nenhum desses atos é intrinsecamente errado e, por isso, os deveres que proíbem a sua realização não devem ser considerados absolutos. Deve notar – se que estamos a referir – nos a um caso dramático em que as alternativas –  permitir a morte de um ou permitir a morte de muitos – são ambas repugnantes. Mas há que optar e, segundo Mill, seguir um princípio como cumpre o dever é vago.

domingo, 13 de agosto de 2017

Conceitos lógicos elementares: algumas exemplificações.

1. Inferência e argumento.

É usual afirmarmos que a lógica estuda inferências e argumentos. Há, pois, a necessidade de compreendermos o que são inferências e argumentos.
Inferir é concluir, é extrair informação nova a partir de raciocínio, do encadeamento de informações disponíveis. A noção de inferência pode ser trabalhada, por exemplo, a partir da resolução de enigmas lógicos. (Ao procurar decifrá-los, faz-se uma série de encadeamentos e, subsequentemente, de inferências.) Pode-se, igualmente, ilustrar o processo de inferência a partir da conversa entre duas galinhas, como na tira de Fernando Gonsales (veiculada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S.Paulo, em 05 de outubro de 2007 e abaixo reproduzida):




As informações disponíveis que as galinhas detinham diziam respeito ao sumiço de Lilian - uma outra galinha - e ao aparecimento de um “cara” comendo uma coxinha de galinha. A partir destes pressupostos, as galinhas da ilustração inferiram que a Lilian dera comida como suborno, garantindo a sua liberdade. Já os leitores que apreciaram a tirinha, dados os mesmos pressupostos, inferiram diferentemente, chegando à conclusão que a coxinha devorada pelo “cara” é a da própria Lilian, pobre galinha...
A partir da noção de inferência, torna-se possível conceituar premissa e conclusão. Dá-se o nome de conclusão à informação que é extraída do processo de inferência. Já as informações que servem de fundamento para as inferências (ou raciocínios) são denominadas premissas: são os pressupostos disponíveis que justificam, embasam, oferecem sustento adequado para a aceitação da conclusão.
E o que vem ser um argumento? Trata-se de um conjunto encadeado de sentenças declarativas, das quais uma é a conclusão, as demais, premissas, e espera-se que as premissas justifiquem a conclusão. Nesse sentido, se a inferência é um processo mental, um argumento é a expressão da inferência, enunciando as hipóteses tomadas como base (premissas) e encadeando as mesmas com a informação nova dali extraída (conclusão).
Os exemplos de argumentos são inúmeros nos textos filosóficos e não filosóficos. E muitos são os tipos possíveis de estrutura argumentativa. Não cabe no escopo deste artigo discorrer sobre tal variedade. Contentemo-nos com duas ilustrações: uma filosófica; outra extraída de um artigo de jornal.

                 Texto de Patrícia Del Nero Velasco, Sobre o Lugar da Lógica na Sala de Aula, publicado: Revista Sul-Americana de Filosofia da Educação – RESAFE. Número 13: novembro/2009 – abril/2010.

sábado, 12 de agosto de 2017

Concepção de Metafísica - Terceiras séries



Quando nasce a metafísica a pergunta que se faz é: “O que é a realidade que o nosso pensamento conhece?” 
A filosofia inicia a investigação a partir do objeto do conhecimento, partindo da afirmação da existência da realidade e de que ela poderia ser conhecida verdadeiramente pela razão ou pelo pensamento.
Pressupõem-se a existência da realidade exterior ao pensamento, a filosofia nasceu como um realismo, e desse realismo nasceu a metafísica.


A metafísica é a investigação filosófica que gira em torno da pergunta “O que é?”. Este “é” possui dois sentidos:

1)      Significa ‘existe’, de modo que a pergunta se refere à realidade e pode ser transcrita como: “O que existe?”;
2)      Significa ‘natureza própria de alguma coisa’, de modo que a pergunta se refere à essência da realidade, podendo ser transcrita como: “Qual é a essência daquilo que existe?”.
Existência e essência da realidade em seus múltiplos aspectos são, assim, os temas principais da metafísica. Ela investiga os fundamentos, os princípios e as causas de todas as coisas e o ser íntimo de todas as coisas, indagando por que elas existem e por que são o que são.
A história da metafísica pode ser dividida em três grandes períodos, o primeiro deles separado dos outros dois pela filosofia de David Hume.

1.      Período que vai de Platão e Aristóteles ( século IV e III a. C.) até Hume ( século XVIII d. C.) ;
2.      Período que vai de Kant ( século XVIII) até a fenomenologia de Husserl ( século XX);
3.      Metafísica ou ontologia contemporânea, a partir dos anos de 1920.

Primeiro período
- investiga aquilo que é ou existe, a realidade em si;
- é um conhecimento racional apriorístico, ou seja, não se baseia nos dados obtidos pela experiência sensível (empiricamente), mas nos puros conceitos formados pelo pensamento puro ou pelo intelecto;
- exige a distinção entre ser e parecer ou entre realidade e aparência, seja porque, para alguns filósofos, a aparência é irreal e falsa, seja porque, para outros filósofos, a aparência só pode ser compreendida e explicada pelo conhecimento da realidade que se pertence a ela.
Até Platão o conhecimento racional era o mais importante, a partir do pensamento aristotélico o conhecimento empírico fornece alimento para o pensamento, citação de Aristóteles:
Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer: uma prova disso é o prazer das sensações, pois, fora até da sua utilidade, elas nos agradam por si mesmas e, mais que todas as outras, as visuais. Com efeito, não só para agir, mas até quando não nos propomos operar coisa alguma, preferimos, por assim dizer, a vista aos demais. A razão é que ela é, de todos os sentidos, o que melhor nos faz conhecer as coisas e mais diferenças nos descobre. (ARISTÓTELES, 1973, p. 211).  

Metafísica ou Ontologia

 O termo metafísica não foi empregado pelos filósofos gregos, ele só aparece no ano 50 a. C., quando Andrônico de Rodes recolheu e classificou as obras de Aristóteles que haviam ficado perdidas por muitos séculos. Com essa sentença – tà meta tà physica-, ou o que Aristóteles chamou de Filosofia primeira, cujo tema é o estudo do “Ser enquanto ser”. Desse modo, o que Aristóteles chamou de Filosofia Primeira passou a ser designado como Metafísica

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Para as 3ªs séries - Terceiro Bimestre

  Descartes e o Racionalismo

 Hume e o Empirismo

Kant e o Criticismo

 Sobre as Formas de Conhecimento

*Experiência: Filosofia.- Conhecimento adquirido através do uso dos sentidos .
*Conhecimento a priori:- Conhecimento adquirido sem a necessidade da experiência.
*Conhecimento a posteriori:- Conhecimento ao qual se chega depois de uma experiência.
*Sensação:- Processo de natureza física e/ou psíquica em que um estímulo ou um fator externo ou interno provoca uma reação física ou emocional em um indivíduo ou em um grupo; impressão física ou psíquica: sensação de frio: sensação de medo: Teve a sensação de que alguém havia entrado.
*Reflexão:- Pensamento sério ou meditação profunda a respeito de determinado assunto, problema, ou sobre si mesmo. Ensaio sobre um assunto, uma temática: Reflexões sobre a globalização e seus efeitos. Atenção aplicada ao processo do entendimento, aos fenômenos da consciência e às próprias ideias.

 Da Distinção Entre o Conhecimento Puro e o Empírico

Não se pode duvidar de que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, por­que, com efeito, como haveria de exercitar-se a fa­culdade de se conhecer, se não fosse pelos objetos que, excitando os nossos sentidos, de uma parte, produzem por si mesmos representações, e de ou­tra parte, impulsionam a nossa inteligência a compará-los entre si, a reuni-los ou separá-los, e deste modo à elaboração da matéria informe das impressões sensíveis para esse conhecimento das coisas que se denomina experiência?
No tempo, pois, nenhum conhecimento precede a experiência, todos começam por ela.
Mas se é verdade que os conhecimentos derivam da experiência, alguns há, no entanto, que não têm essa origem exclusiva, pois poderemos admitir que o nosso conhecimento empírico seja um composto daquilo que recebemos das impressões e daquilo que a nossa faculdade cognoscitiva lhe adiciona (estimulada somente pelas impres­sões dos sentidos); aditamento que propriamente não distinguimos senão mediante uma longa prática que nos habilite a separar esses dois elementos.
Surge desse modo uma questão que não se pode resolver à primeira vista: será possível um conhecimento independente da experiência e das impressões dos sentidos?
Tais conhecimentos são denominados “a prio­ri”, e distintos dos empíricos, cuja origem é a posteriori”, isto é, da experiência.
(...) Assim, se alguém escava os alicerces de uma casa, “a priori” poderá esperar que ela desabe, sem precisar observar a experiência da sua queda, pois, praticamente, já sabe que todo corpo aban­donado no ar sem sustentação cai ao impulso da gravidade. Assim esse conhecimento é nitida­mente empírico.
Consideraremos, portanto, conhecimento “a priori”, todo aquele que seja adquirido indepen­dentemente de qualquer experiência. A ele se opõem os opostos aos empíricos, isto é, àqueles que só o são “a posteriori”, quer dizer, por meio da experiência.
Kant, Emmanuel. Introdução- http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/critica.html#2>  Acesso em 05/05/2013.

Questões:

1º Qual  a ideia  principal do texto?

2º Para Kant, o que é o conhecimento a priori e conhecimento a posteriori?

3º Apresente uma relação de conhecimentos que você já elaborou sobre uma de suas atividades antes mesmo de tê-la vivenciado.



Para as 2ªs séries - Terceiro Bimestre

Jean Paul Sartre - Século XX


O Existencialismo

Na antiguidade:
Para Aristóteles, a essência humana existe antes mesmo de o ser humano existir. Ao longo da vida humana, a essência vai se realizando com a ação.
Para ilustrarmos o pensamento de Aristóteles podemos utilizar como exemplo uma semente:
Uma semente de maçã é uma maçã em potência, ou seja, a semente traz em si mesma a identidade do fruto da macieira e da própria macieira.
O crescimento da macieira nada mais é do que a realização de sua essência.

Na contemporaneidade:
A filosofia existencial se opõe a ideia de Aristóteles e afirma que, no caso do ser humano, “a existência precede a essência”. O ser humano não tem essência ao nascer; vai construindo aquilo que é ao longo de sua vida, ao longo de sua existência.

Vamos destacar aqui o filósofo Jean Paul Sartre ( https://www.ebiografia.com/jean_paul_sartre/)

Sartre abandona a ideia de natureza humana, pois se não nascemos com uma essência, não temos uma natureza, o que temos é uma condição, a “condição humana”.

A condição humana determina que o ser humano construa sempre sua identidade. Ele nunca é alguma coisa, ele sempre está em determinada condição. Vocês hoje estão estudantes, assim como um dia estarão universitários, profissionais de determinada área, etc. Mas nenhuma dessas realidades dá ou dará a vocês uma identidade fixa. Por isso, Sartre afirma que o humano não é propriamente um ser, mas um vir-a-ser, na medida em que ele é sempre um projeto.
Para Sartre “o homem está condenado a ser livre”, pois a única escolha que ele não pode fazer é a de não ser livre. O ser humano é livre porque sua existência é gratuita, contingente, não tem uma finalidade definida. Na medida em que é nada, o humano pode ser tudo, pode ser qualquer coisa.
A liberdade se traduz no ato da escolha. Temos todas possibilidades, e temos sempre que escolher entre essas possibilidades.
Exemplo: Se você está na escola, pode decidir assistir ou não à aula.
E toda escolha tem suas consequências, pelas quais somos responsáveis. Assim, a liberdade gera em nós uma angústia: a angústia de ter que decidir, a angústia de se saber responsável pela escolha e por suas consequências.
A escolha gera uma responsabilidade por toda a humanidade, pois alguém escolhe sempre para si mesmo e pelos outros. Se escolho, por exemplo, a vida do crime, estou afirmando que ela é uma boa opção, e não apenas para mim, mas para  todos os outros seres humanos. E sou responsável por ela.
Na conferência que Sartre fez em 1946 defendeu que o “existencialismo é um humanismo”.


Exercício de reflexão.
Vamos refletir sobre o que nos diz a poetisa brasileira Cora Coralina:
“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar, porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é decidir.” ( Cora Coralina).


Gostaria que os alunos lessem o texto: O existencialismo é um humanismo, pegar o texto no blog de filosofia –  http://gostandodefilosofia.blogspot.com.br/p/1-sartrej-p.html

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Sites que auxiliam os estudos para o Enem

Aqui vão alguns sites com acesso gratuito para vocês que irão prestar o Enem este ano,  ajudarão muito, mas é  preciso se ater às aulas na escola, bem como estudar pelos livros em casa.

1.    Hora do Enem

O site é um projeto do Ministério da Educação desenvolvido especialmente para ajudar a reforçar os estudos de quem vai prestar o Enem. O site traz programas de TV, ensina a desenvolver um plano de estudos, faz sessões de simulados ao vivo e oferece uma plataforma de vídeos chamada Mecflix! A Hora do Enem traz ainda notícias, debate questões das provas anteriores e apresenta dicas legais para fazer bonito na hora da prova.

Site: http://tvescola.mec.gov.br/tve/serie/hora-do-enem

2.    FGV Ensino Médio

A Fundação Getúlio Vargas tem uma plataforma para ajudar os alunos a se darem bem no ensino médio e no Enem. Ao se cadastrar gratuitamente, o estudante tem acesso a jogos, textos, atividades, vídeos e um grande banco de questões. A FGV é uma das instituições mais tradicionais do Brasil e o conteúdo oferecido é elaborado por especialistas na área.

Site: http://ensinomediodigital.fgv.br/enem

3.    Mundo Vestibular

O Mundo Vestibular é um dos sites mais tradicionais e completos para quem pretende fazer um curso superior. Lá você encontra conteúdos sobre faculdades, o que se estuda em cada uma delas, dicas para se dar bem no Enem, rankings com as melhores universidades, valor das mensalidades, dicas de estudo e todas as informações que você precisa saber sobre os programas de acesso ao ensino superior do Governo Federal (Sisu, ProUni, FIES).

Site: http://www.mundovestibular.com.br/

4.    PasseiWeb

O PasseiWeb disponibiliza gratuitamente uma enorme variedade de conteúdos que são abordados no Enem, em todas as áreas de conhecimento: Biologia, Inglês, Física, Geografia, Química, Matemática, Língua Portuguesa, Literatura, Filosofia, Sociologia e muitos outros.  O site também ajuda o candidato a se preparar para o aspecto prático da prova. Ao navegar pelo conteúdo, é possível aprender como se faz uma boa redação para o Enem, como adquirir ritmo de estudos, praticar seus conhecimentos em simulados, acessar bancos de questões, etc.

Site: http://www.passeiweb.com/

5.    Gramática Online

A nota da redação tem grande peso na média final do candidato, por este motivo, é indispensável dedicar boa parte do tempo de estudos a língua portuguesa. No Gramática Online é possível encontrar testes, textos explicativos, esclarecimento de dúvidas e videoaulas.

Site: http://www.gramaticaonline.com.br/

6.    Física Interativa

Como o próprio nome já diz, o site Física Interativa é totalmente voltado para o ensino da física para vestibular e ensino médio. O grande diferencial é que ele exibe aulas ao vivo e é possível esclarecer dúvidas com um professor especializado no assunto.

Site: http://www.fisicainterativa.com/

7.    Mande Bem no Enem

Para quem dispensa conteúdos muito extensos e é a favor da praticidade na hora de aprender, o Mande Bem no Enem é uma ótima opção. O site possui 42 videoaulas, todas interligadas e abordando os mais diversos assuntos.

Site: http://www.mandebemnoenem.com/

8.    Brasil Escola

O Brasil Escola é um portal voltado para alunos do ensino regular, todo conteúdo abordado é explicado de maneira simples e abrange diversas áreas de conhecimento. O site ainda oferece o serviço Plantão do Enem, para que o estudante possa tirar dúvidas em relação à questões do exame ou sobre outros detalhes.

Site: http://brasilescola.uol.com.br/

9.    Projeto Medicina

No Sisu, uma das notas de corte mais altas é a do curso de medicina. Pensando nisso, o site traz diversos conteúdos para que os alunos possam alcançar o sonho.

Site: https://projetomedicina.com.br/

10. Matemática Muito Fácil

A prova de Matemática e suas Tecnologias do Enem é composta por 45 questões, fato que exige muito preparo dos alunos. Conhecer o conteúdo de mais de um site sobre o assunto é fundamental para garantir o domínio completo do assunto.

Site: http://www.matematicamuitofacil.com/

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Os constituintes do campo ético - Segundos Anos


Para que haja conduta ética é preciso que exista o agente consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício. A consciência moral não só conhece tais diferenças, mas também reconhece-se como capaz de julgar o valor dos atos e das condutas e de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso responsável por suas ações e seus sentimentos e pelas consequências do que faz e sente.
Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida ética. A consciência moral manifesta-se, antes de tudo, na capacidade para deliberar diante de alternativas possíveis, decidindo e escolhendo uma delas antes de lançar-se na ação. Tem a capacidade para avaliar e pesar as motivações pessoais, as exigências feitas pela situação, as consequências para si e para os outros, a conformidade entre meios e fins (empregar meios imorais para alcançar fins morais é impossível), a obrigação de respeitar o estabelecido ou de transgredi-lo (se o estabelecido for imoral ou injusto).
(...)  O campo ético é, assim, constituído pelos valores e pelas obrigações que formam o conteúdo das condutas morais, isto é, as virtudes. Estas são realizadas pelo sujeito moral, principal constituinte da existência ética.
O sujeito ético ou moral, isto é, a pessoa, só pode existir se preencher as seguintes condições:
* ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele;
* ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis;
* ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e consequências dela sobre si e sobre os outros, assumi-la bem como às suas consequências, respondendo por elas;
* ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto o poder para escolher entre vários possíveis, mas o poder para autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.
O campo ético é, portanto, constituído por dois polos internamente relacionados: o agente ou sujeito moral e os valores morais ou virtudes éticas.
Do ponto de vista do agente ou sujeito moral, a ética faz uma exigência essencial, qual seja, a diferença entre passividade e atividade. Passivo é aquele que se deixa governar e arrastar por seus impulsos, inclinações e paixões, pelas circunstâncias, pela boa ou má sorte, pela opinião alheia, pelo medo dos outros, pela vontade de um outro, não exercendo sua própria consciência, vontade, liberdade e responsabilidade.
Ao contrário, é ativo ou virtuoso aquele que controla interiormente seus  impulsos, suas inclinações e suas paixões, discute consigo mesmo e com os outros o sentido dos valores e dos fins estabelecidos, indaga se devem e como devem ser respeitados ou transgredidos por outros valores e fins superiores aos existentes, avalia sua capacidade para dar a si mesmo as regras de conduta, consulta sua razão e sua vontade antes de agir, tem consideração pelos outros sem subordinar-se nem submeter-se cegamente a eles, responde pelo que faz, julga suas próprias intenções e recusa a violência contra si e contra os outros. Numa palavra, é autônomo.

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CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000, pág. 433 e 434.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Santo Agostinho e São Tomás de Aquino

 Santo Agostinho de Hipona
(354 à 430)

São Tomás de Aquino
(1224 à 1274)


Acessem o PDF no link acima e vão até às páginas 59 ( Agostinho) e 67 ( Tomás).

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Trabalho para os Terceiros Anos - Segundo Bimestre

 Acessem o link ( PDF) do texto, clique no título abaixo:

Maquiavel (1469-1527)
 Hobbes (1588-1679)
 Locke (1632-1704)
Rousseau (1712-1778)


terça-feira, 25 de abril de 2017

A ÉTICA DE PLATÃO / Segundos Anos


Clique no link para acessar o pdf do texto

Platão

Excerto da obra "Textos Básicos de Ética, de Platão à Foucault" de Danilo Marcondes pág. 15 à 35, Ed. Zahar.

terça-feira, 28 de março de 2017

A EXISTÊNCIA ÉTICA (2017)


Senso Moral e Consciência Moral

Muitas vezes, tomamos conhecimento de movimentos nacionais e internacionais de luta contra a fome. Ficamos sabendo que, em outros países e no nosso, milhares de pessoas, sobretudo crianças e velhos, morrem de penúria e inanição. Sentimos piedade. Sentimos indignação diante de tamanha injustiça (especialmente quando vemos o desperdício dos que não têm fome e vivem na abundância). Sentimos responsabilidade. Movidos pela solidariedade, participamos de campanhas contra a fome. Nossos sentimentos e nossas ações exprimem nosso senso moral.

Quantas vezes, levados por algum impulso incontrolável ou por alguma emoção forte (medo, orgulho, ambição, vaidade, covardia), fazemos alguma coisa de que, depois, sentimos vergonha, remorso, culpa. Gostaríamos de voltar atrás no tempo e agir de modo diferente. Esses sentimentos também exprimem nosso senso moral.

Em muitas ocasiões, ficamos contentes e emocionados diante de uma pessoa cujas palavras e ações manifestam honestidade, honradez, espírito de justiça, altruísmo, mesmo quando tudo isso lhe custa sacrifícios. Sentimos que há grandeza e dignidade nessa pessoa. Temos admiração por ela e desejamos imitá- la. Tais sentimentos e admiração também exprimem nosso senso moral.

Não raras vezes somos tomados pelo horror diante da violência: chacinas de seres humanos e animais, linchamentos, assassinatos brutais, estupros, genocídio, torturas e suplícios. Com freqüência, ficamos indignados ao saber que um inocente foi injustamente acusado e condenado, enquanto o verdadeiro culpado permanece impune. Sentimos cólera diante do cinismo dos mentirosos, dos que usam outras pessoas como instrumento para seus interesses e para conseguir vantagens às custas da boa-fé de outros. Todos esses sentimentos manifestam nosso senso moral.

Vivemos certas situações, ou sabemos que foram vividas por outros, como situações de extrema aflição e angústia. Assim, por exemplo, uma pessoa querida, com uma doença terminal, está viva apenas porque seu corpo está ligado a máquinas que a conservam. Suas dores são intoleráveis. Inconsciente, geme no sofrimento. Não seria melhor que descansasse em paz? Não seria preferível deixá-la morrer? Podemos desligar os aparelhos? Ou não temos o direito de fazê- lo? Que fazer? Qual a ação correta?

(...) Um pai de família desempregado, com vários filhos pequenos e a esposa doente, recebe uma oferta de emprego, mas que exige que seja desonesto e cometa irregularidades que beneficiem seu patrão. Sabe que o trabalho lhe permitirá sustentar os filhos e pagar o tratamento da esposa. Pode aceitar o emprego, mesmo sabendo o que será exigido dele? Ou deve recusá-lo e ver os filhos com fome e a mulher morrendo?

(...) Uma mulher vê um roubo. Vê uma criança maltrapilha e esfomeada roubar frutas e pães numa mercearia. Sabe que o dono da mercearia está passando por muitas dificuldades e que o roubo fará diferença para ele. Mas também vê a miséria e a fome da criança. Deve denunciá-la, julgando que com isso a criança não se tornará um adulto ladrão e o proprietário da mercearia não terá prejuízo? Ou deverá silenciar, pois a criança corre o risco de receber punição excessiva, ser levada para a polícia, ser jogada novamente às ruas e, agora, revoltada, passar do furto ao homicídio? Que fazer?

(...) Situações como essas – mais dramáticas ou menos dramáticas – surgem sempre em nossas vidas. Nossas dúvidas quanto à decisão a tomar não manifestam apenas nosso senso moral, mas também põem à prova nossa consciência moral, pois exigem que decidamos o que fazer, que justifiquemos para nós mesmos e para os outros as razões de nossas decisões e que assumamos todas as consequências delas, porque somos responsáveis por nossas opções.

Todos os exemplos mencionados indicam que o senso moral e a consciência moral referem-se a valores (justiça, honradez, espírito de sacrifício, integridade, generosidade), a sentimentos provocados pelos valores (admiração, vergonha, culpa, remorso, contentamento, cólera, amor, dúvida, medo) e a decisões que conduzem a ações com consequências para nós e para os outros. Embora os conteúdos dos valores variem, podemos notar que estão referidos a um valor mais profundo, mesmo que apenas subentendido: o bom ou o bem. Os sentimentos e as ações, nascidos de uma opção entre o bom e o mau ou entre o bem e o mal, também estão referidos a algo mais profundo e subentendido: nosso desejo de afastar a dor e o sofrimento e de alcançar a felicidade, seja por ficarmos contentes conosco mesmos, seja por recebermos a aprovação dos outros.

O senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade. Dizem respeito às relações que mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte de nossa vida intersubjetiva.

Juízo de fato e de valor
Se dissermos: “Está chovendo”, estaremos enunciando um acontecimento constatado por nós e o juízo proferido é um juízo de fato. Se, porém, falarmos: “A chuva é boa para as plantas” ou “A chuva é bela”, estaremos interpretando e avaliando o acontecimento. Nesse caso, proferimos um juízo de valor.

Juízos de fato são aqueles que dizem o que as coisas são, como são e por que são. Em nossa vida cotidiana, mas também na metafísica e nas ciências, os juízos de fato estão presentes. Diferentemente deles, os juízos de valor - avaliações sobre coisas, pessoas e situações - são proferidos na moral, nas artes, na política, na religião.

Juízos de valor avaliam coisas, pessoas, ações, experiências, acontecimentos, sentimentos, estados de espírito, intenções e decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis. Os juízos éticos de valor são também normativos, isto é, enunciam normas que determinam o dever ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos comportamentos. São juízos que enunciam obrigações e avaliam intenções e ações segundo o critério do correto e do incorreto.
Os juízos éticos de valor nos dizem o que são o bem, o mal, a felicidade. Os juízos éticos normativos nos dizem que sentimentos, intenções, atos e comportamentos devemos ter ou fazer para alcançarmos o bem e a felicidade. Enunciam também que atos, sentimentos, intenções e comportamentos são condenáveis ou incorretos do ponto de vista moral.

Como se pode observar, senso moral e consciência moral são inseparáveis da vida cultural, uma vez que esta define para seus membros os valores positivos e negativos que devem respeitar ou detestar.

Qual a origem da diferença entre os dois tipos de juízos? A diferença entre a Natureza e a Cultura. A primeira, como vimos, é constituída por estruturas e processos necessários, que existem em si e por si mesmos, independentemente de nós: a chuva é um fenômeno meteorológico cujas causas e cujos efeitos necessários podemos constatar e explicar.

Por sua vez, a Cultura nasce da maneira como os seres humanos interpretam a si mesmos e suas relações com a Natureza, acrescentando-lhe sentidos novos, intervindo nela, alterando-a através do trabalho e da técnica, dando-lhe valores. Dizer que a chuva é boa para as plantas pressupõe a relação cultural dos humanos com a Natureza, através da agricultura. Considerar a chuva bela pressupõe uma relação valorativa dos humanos com a Natureza, percebida como objeto de contemplação.

Frequentemente, não notamos a origem cultural dos valores éticos, do senso moral e da consciência moral, porque somos educados (cultivados) para eles e neles, como se fossem naturais ou fáticos, existentes em si e por si mesmos. Para garantir a manutenção dos padrões morais através do tempo e sua continuidade de geração a geração, as sociedades tendem a naturalizá-los. A naturalização da existência moral esconde, portanto, o mais importante da ética: o fato de ela ser criação histórico-cultural.

CHAUI, Marilena. Convite à  Filosofia. 567p.  2013 .http:/

/proenem.sites.ufms.br/wp-content/blogs.dir/64/files/2013/03/Convite-Filosofia-Marilena-Chaui.pdf

sexta-feira, 17 de março de 2017

Tarefa dos 3ºs anos para a próxima semana. dia 21/03.


PLATÃO e a APOLOGIA DE SÓCRATES

Leiam as páginas 19, 20 21, 22 e 23 até o primeiro parágrafo, respondam as perguntas 1, 2 e3 da página 42.

A REPÚBLICA - A ALEGORIA DA CAVERNA

Leiam as páginas 39,40, 41 e 42, respondam as perguntas 19, 20, 21, 22, 23 e 24 das páginas 43 e 44.


Clique neste link:  Sócrates e Platão

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

1ª Aula dos 3ºs anos - 2017 - Aula Inaugural - Estética

"A Escola de Atenas"




Autor - Raffaello Sanzio
Data - 1509-1511 cerca
Técnica - Afresco
Dimensão - 500×770 cm
Local- Museu Vaticano, Città del Vaticano


Apresentação da obra e dos filósofos que serão trabalhados no bimestre a partir da " A Escola de Atenas" do pintor renascentista Raffaello Sanzio.

Conceito e história do termo: estética só foi introduzida no vocabulário filosófico em 1750, pelo filósofo alemão Alexander Baumgarte.

Etimologia:
Estética. Do grego aisthesis, significa “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”, “percepção totalizante” (perceber o todo).
Segundo Baumgarten a estética é a experiência sensível, e a partir do estudo da estética pode-se desenvolver uma “ciência do sensível” (experiência) pensando o sensível segundo um critério.
A estética como uma reflexão filosófica, enquanto uma experiência do sensível.
Não há experiência estética sem o sensível. Este sensível nos leva a procurar conhecer o conceito de arte, mas não é qualquer sensível, mas aquele que a obra de arte nos apresenta.
Seguindo alguns critérios, iremos iniciar esta experiência ou este movimento, que nos levará à experiência estética:

Observação [ observar com atenção]
Descrever [ tentar passar a real figura da obra de arte com palavras]
Interpretar [ deve basear-se nos elementos da obra]
Avaliação estética [ atribuir valor: falar sobre as qualidades da obra]
Reflexão filosófica [ pensar sobre a obra e sobre o que ela significa]

Segundo Paul Valéry:
“A superioridade do homem sobre os restantes seres da natureza, é devida aos seus pensamentos inúteis”.

É na inutilidade da arte que fazemos a diferença, buscando a contemplação ou a expressão do que sentimos. A obra de arte nos oferece meios para purificarmos nosso “espírito”, ou alimentar a nossa “mente”.

Exercício de reflexão
Apesar do valor intrínseco da arte, a educação estética para Schiller não é um fim em si mesmo, mas um processo pelo qual a humanidade precisa passar para retornar à sua essência verdadeira. Nesse ponto, terá atingido a necessária liberdade para se transformar no que achar apropriado dentro das circunstâncias existentes. (ARANHA e MARTINS, 2009, pág. 445). 

Como Schiller, podemos dizer que faz parte da educação de um povo a inserção na cultura através da aprendizagem estético-filosófica, cabe ao professor de filosofia apresentar obras que modificaram o modo de pensar de uma geração, como a obra renascentista de Raffaello Sanzio.
Escola de Atenas exalta a busca racional. O afresco, emoldurado por um arco pintado, retrata os mais famosos filósofos e matemáticos da antiguidade, um em diálogo com o outro, dentro de um edifício clássico imaginário, representada em perspectiva perfeita.
As figuras estão dispostas substancialmente em dois planos definidos por uma escada ampla que corta toda a cena. Um primeiro e maior grupo está disposto em ambos os lados de um par central de figuras conversando, identificados como Platão e Aristóteles. Um segundo grupo independente, que foram identificados pensadores interessados no conhecimento da natureza e dos fenômenos celestes, é colocado no primeiro plano do lado esquerdo, ao passo que uma terceira, que também é independente, restritos e dispostos simetricamente em relação ao segundo, é difícil a identificação âmbito intelectual, apesar dos esforços dos estudiosos; pista é a presença de uma figura identificada em Euclides (ou Arquimedes), o que denota a intenção de estabelecer uma prova geométrica.
O grande afresco constitui definitivamente um "manifesto" do homem, uma concepção antropocêntrica Renascentista. O homem domina a realidade, graças às suas faculdades intelectuais, colocando-se no centro do universo, em uma linha de continuidade entre a Antiguidade clássica e o cristianismo. Se a perspectiva recorda a estrutura da antiga basílica, a geometria em que os personagens estão dispostos simboliza a confiança de Raffaello na ordem do mundo, uma ordem divina e intelectual ao mesmo tempo.


Segundo Giovanni Reale (1997):
 "A arte de Raffaello é um atenuante da metafísica", a justa medida, o que para Platão coincide com o bem e com a verdade e [...] é, portanto, o supremo Bem e a Verdade perante o Belo. E eu acredito que com a assinatura do ‘pequeno entre os grandes’, Raffaello também se apresenta como um filósofo, sem dúvida, nesta dimensão: a arte é alta filosofia, como explicação de harmonias numéricas, de beleza visível, tornando-se harmonias, em última análise, a estrutura do ser".


Referências Bibliográficas:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução à Filosofia/ Maria Lúcia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires Martins. – 4. Ed. – São Paulo: Moderna, 2009.

REALE, Giovanni.  La scuola di Atene di Raffaello, Bompiani, Milão 2005, p. 65-68.

SÃO PAULO, Currículo do Estado. Caderno do Professor/ Filosofia, 3ª série, vol.1, Nova edição, São Paulo, 2014 – 2017.

THARRATS, Joan-Josep. História Geral da Arte, Ed. Del Prado, 1995, Espanha.

VALERY. Paul, Apud: História Geral da Arte, Ed. Del Prado, 1995, Espanha.

Aula em pdf: 
Estética