Segundas Séries
A Ética dos Antigos, com destaque para Aristóteles
Na práxis, o agente, a ação e a finalidade do agir são inseparáveis. Assim, por exemplo, dizer a verdade é uma virtude do agente, inseparável de sua fala verdadeira e de sua finalidade, que é proferir uma verdade. Na práxis ética somos aquilo que fazemos e o que fazemos é a finalidade boa ou virtuosa. Ao contrário, na técnica, diz Aristóteles, o agente, a ação e a finalidade da ação estão separados, sendo independentes uns dos outros. Um carpinteiro, por exemplo, ao fazer uma mesa, realiza uma ação técnica, mas ele próprio não é essa ação nem é a mesa produzida pela ação. A técnica tem como finalidade a fabricação de alguma coisa diferente do agente e da ação fabricadora. Dessa maneira, Aristóteles distingue a ética e a técnica como práticas que diferem pelo modo de relação do agente com a ação e com a finalidade da ação. Também devemos a Aristóteles a definição do campo das ações éticas. Estas não só são definidas pela virtude, pelo bem e pela obrigação, mas também pertencem àquela esfera da realidade na qual cabem a deliberação e a decisão ou escolha.
Em outras palavras, quando o curso de uma realidade segue leis necessárias e universais, não há como nem por que deliberar e escolher, pois as coisas acontecerão necessariamente tais como as leis que as regem determinam que devam acontecer.
Não deliberamos sobre as estações do ano, o movimento dos astros, a forma dos minerais ou dos vegetais. Não deliberamos e nem decidimos sobre aquilo que é regido pela Natureza, isto é, pela necessidade. Mas deliberamos e decidimos sobre tudo aquilo que, para ser e acontecer, depende de nossa vontade e de nossa ação. Não deliberamos e não decidimos sobre o necessário, pois o necessário é o que é e o que será sempre, independentemente de nós. Deliberamos e decidimos sobre o possível, isto é, sobre aquilo que pode ser ou deixar de ser, porque para ser e acontecer depende de nós, de nossa vontade e de nossa ação. Aristóteles acrescenta à consciência moral, trazida por Sócrates, a vontade guiada pela razão como o outro elemento fundamental da vida ética.
A importância dada por Aristóteles à vontade racional, à deliberação e à escolha o levou a considerar uma virtude como condição de todas as outras e presente em todas elas: a prudência ou sabedoria prática. O prudente é aquele que, em todas as situações, é capaz de julgar e avaliar qual a atitude e qual a ação que melhor realizarão a finalidade ética, ou seja, entre as várias escolhas possíveis, qual a mais adequada para que o agente seja virtuoso e realize o que é bom para si e para os outros.
Se examinarmos o pensamento filosófico dos antigos, veremos que nele a ética afirma três grandes princípios da vida moral:
1. por natureza, os seres humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser alcançados pela conduta virtuosa;
2. a virtude é uma força interior do caráter, que consiste na consciência do bem e na conduta definida pela vontade guiada pela razão, pois cabe a esta última o controle sobre instintos e impulsos irracionais descontrolados que existem na natureza de todo ser humano;
3. a conduta ética é aquela na qual o agente sabe o que está e o que não está em seu poder realizar, referindo-se, portanto, ao que é possível e desejável para um ser humano. Saber o que está em nosso poder significa, principalmente, não se deixar arrastar pelas circunstâncias, nem pelos instintos, nem por uma vontade alheia, mas afirmar nossa independência e nossa capacidade de autodeterminação.
O sujeito ético ou moral não se submete aos acasos da sorte, à vontade e aos desejos de um outro, à tirania das paixões, mas obedece apenas à sua consciência – que conhece o bem e as virtudes – e à sua vontade racional – que conhece os meios adequados para chegar aos fins morais. A busca do bem e da felicidade são a essência da vida ética.
Podemos resumir a ética dos antigos em três aspectos principais:
1. o racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a razão, que conhece o bem, o deseja e guia nossa vontade até ele;
2. o naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a Natureza (o cosmos) e com nossa natureza (nosso ethos), que é uma parte do todo natural;
3. a inseparabilidade entre ética e política: isto é, entre a conduta do indivíduo e os valores da sociedade, pois somente na existência compartilhada com outros encontramos liberdade, justiça e felicidade.
A ética, portanto, era concebida como educação do caráter do sujeito moral para dominar racionalmente impulsos, apetites e desejos, para orientar a vontade rumo ao bem e à felicidade, e para formá-lo como membro da coletividade sociopolítica. Sua finalidade era a harmonia entre o caráter do sujeito virtuoso e os valores coletivos, que também deveriam ser virtuosos.
História e virtudes
Viemos observando que os valores morais modificam-se na História porque seu conteúdo é determinado por condições históricas. Podemos comprovar a determinação histórica do conteúdo dos valores, examinando as virtudes definidas em diferentes épocas. Se tomarmos a Ética a Nicômaco, de Aristóteles, nela encontraremos a síntese das virtudes que constituíam a areté (a virtude ou excelência ética) e a moralidade grega durante o tempo em que a polis autônoma foi a referência
social da Grécia. Aristóteles distingue vícios e virtudes pelo critério do excesso, da falta e da moderação: um vício é um sentimento ou uma conduta excessivos, ou, ao contrário, deficientes; uma virtude, um sentimento ou uma conduta moderados.
Resumidamente, eis o quadro aristotélico:
Marilena Chaui, Convite á Filosofia, Ed. Ática, São Paulo, 2000.
As virtudes: o justo
meio
A virtude (areté) é a
expressão maior da excelência de uma pessoa, de sua integridade, de sua
identidade. A paixão, por outro lado, torna-a confusa, dividida entre desejos
contrários, conflitantes, opostos. Alguém sob o domínio da paixão pode
inclinar-se ao vício, que é o excesso ou a falta da paixão. A virtude é
encontrar, pelo uso da razão, o meio-termo entre esses extremos, que
Aristóteles chamou de justo meio.
Suponha-se alguém
dominado pelo prazer (que, para Aristóteles, é uma paixão). Esse alguém pode
ser libertino (um dos extremos do prazer prazer em excesso) ou insensível (o
extremo oposto: falta de prazer), O justo meio, aqui, é a temperança, à qual se
chega pelo uso da razão.
A virtude, assim, está
ligada à razão. E, como todo homem é dotado de razão, todo homem pode alcançar
a virtude. Basta identificar a paixão que o domina, reconhecer seus extremos e
procurar, racionalmente, seu justo meio.
A maior de todas as
virtudes, diz Aristóteles, é a justiça. Sua força sobre as demais consiste em
sua perfeição, porque quem é justo projeta-se mais para o outro do que para si
mesmo. Em outras palavras, tudo que protege o conjunto dos indivíduos (a
sociedade) é mais importante do que aquilo que protege somente um dos membros
dessa sociedade, Por isso, dos males, a injustiça é o maior, pois destrói o
tecido social.
Política e Estado
Como Platão, Aristóteles
também faz um estudo dos regimes políticos, divididos em monarquia,
aristocracia e politeia ou república. Tal qual Platão, Aristóteles considera
que cada um deles pode degenerar a monarquia, em tirania; a aristocracia, em
oligarquia; a democracia, em anarquia.
O melhor dos regimes
possíveis consistirá em uma combinação do que há de melhor em cada um deles. O
melhor da república é a liberdade e a igualdade; da monarquia, a capacidade de
criar riquezas; e da aristocracia, sua excelência, capacidade e qualidades
intelectuais,
Entre os escritos
políticos de Aristóteles, a Constituição de Atenas, descoberta no século XIX no
Egito, ocupa um lugar especial. Essa obra era parte das 158 constituições que
Aristóteles reunira a fim de ter uma base empírica para a reflexão sobre teoria
política.
“Uma constituição é a
ordem ou distribuição dos poderes de um Estado, isto é, a maneira como são
divididos, a sede da soberania e o fim a que se propõe a sociedade.”
Aristóteles, Política,
III, 1278b 6-10
Os estudantes farão um resumo do texto no caderno, destacando os principais conceitos do pensamento ético antigo, tanto das questões éticas, quanto das questões políticas. Depois farão uma destaque das virtudes: três virtudes e o que elas significam na prática e três vícios que podem ser tanto de excesso, quanto da falta e o que esses vícios significam na prática, podem fazer isso no caderno e fotografem e enviem pelo whatsApp privado.
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