quinta-feira, 3 de maio de 2018

Epicuro


Carta a Meneceu

(Sobre a Felicidade)

1 - O Estudo da Filosofia

Meneceu
Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou, ou que já passou a hora de ser feliz.
Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la.
Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.

2 - Os Deuses

Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.
Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção que têm dos deuses. Ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria.
Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons. Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.

3 - A Morte

Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo o bem e todo o mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.
Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.
Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.
O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; viver não é um fardo e não-viver não é um mal.

4 - Saber Viver

Assim como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que breve.
Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem não passa de um tolo, não só pelo que a vida tem de agradável para ambos, mas também porque se deve ter exatamente o mesmo cuidado em honestamente viver e em honestamente morrer.
Mas pior ainda é aquele que diz: bom seria não ter nascido, mas uma vez nascido, transpor o mais depressa possível as portas do Hades.
Se ele diz isso com plena convicção, por que não vai desta vida? Pois é livre para fazê-lo, se for esse realmente seu desejo; mas se o disse por brincadeira, foi frívolo em falar de coisas que brincadeira não admitem.
Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais.

5 - Os Desejos e a Tranquilidade de Espírito

Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem estar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo.
Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo, não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. De fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir.

6 - O Prazer

É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz.
Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha ou recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.
Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo.
Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem.

7 - A Simplicidade

Consideramos ainda a autos suficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos com esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo o que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil.
Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita.
Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temor as vicissitudes da sorte.

8 - A Temperança e a Prudência

Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma.
Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos.
De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça, e que não existe prudência, beleza e justiça sem felicidade.
Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas.

9 - O Homem Sábio

Na tua opinião, será que pode existir alguém mais feliz do que o sábio, que tem um juízo reverente acerca dos deuses, que se comporta de modo absolutamente indiferente perante a morte, que bem compreende a finalidade da natureza, que discerne que o bem supremo está nas coisas simples e fáceis de obter, e que o mal supremo ou dura pouco, ou só nos causa sofrimentos leves? Que nega o destino, apresentado por alguns como o senhor de tudo, já que as coisas acontecem ou por necessidade, ou por acaso, ou por vontade nossa; e que a necessidade é incoercível, o acaso, instável, enquanto nossa vontade é livre, razão pela qual nos acompanham a censura e o louvor?
Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos naturalistas: o mito pelo menos nos oferece a esperança do perdão dos deuses através das homenagens que lhes prestamos, ao passo que o destino é uma necessidade inexorável.
Entendendo que a sorte não é uma divindade, como a maioria das pessoas acredita (pois um deus não faz nada ao acaso), nem algo incerto, o sábio não crê que ela proporcione aos homens nenhum bem ou nenhum mal que sejam fundamentais para uma vida feliz, mas, sim, que dela pode surgir o início de grandes bens e de grandes males. A seu ver, é preferível ser desafortunado e sábio, a ser afortunado e tolo; na prática, é melhor que um bom projeto não chegue a bom termo, do que chegue a ter êxito um projeto mau.

10 – Meditação

Medita, pois, todas essas coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, quer acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre os homens. Porque não se assemelha absolutamente a um mortal o homem que vive entre bens imortais.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

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O Início da Filosofia Moderna



Racionalismo e empirismo

Primeiramente, considero haver em nós certas noções primitivas, as quais são como originais, sob cujo padrão
formamos todos os nossos outros conhecimentos. (Descartes)

De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso
respondo, numa palavra, da experiência. (Locke)

... penso não haver mais dúvida que não há princípios prát icos com os quais todos os homens concordam e, portanto,
nenhum é inato. (Locke)

O século XVII representa, na história do homem, a culminação de um processo em que se subverteu a imagem que ele tinha de si próprio e do mundo. A emergência da nova classe dos burgueses determina a produção de uma nova realidade cultural, a ciência física, que se exprime matematicamente. A atividade filosófica, a partir daí, reinicia um novo trajeto: ela se desdobra como uma reflexão cujo pano de fundo é a existência dessa ciência.

Podemos dizer que até então a filosofia tem uma atitude realista, no sentido de não colocar em questão a existência do objeto, a realidade do mundo. A Idade Moderna inverte o polo de atenção, centralizando no sujeito a questão do conhecimento.

Como já vimos, se o pensamento que o sujeito tem do objeto concorda com o objeto, dá -se o conhecimento. Mas qual é o critério para se ter certeza de que o pensamento concorda com o objeto? Isto é, "um dos problemas que a teoria do conhecimento terá que propor e solucionar é aquele de saber quais são os critérios, as maneiras, os métodos de que se pode valer o homem para ver se um conhecimento é ou não verdadeiro.

As soluções apresentadas a essas questões vão originar duas correntes, o racionalismo e o empirismo, destacaremos a seguir o racionalismo.

O racionalismo cartesiano

O filósofo francês Descartes viajou por vários países europeus, tendo morado muito tempo na Holanda. Convidado para a corte da rainha Cristina. não suportou o inverno da Suécia, onde morreu em 1650.

René Descartes (1596-1650), cujo nome latino era Renatus Cartesius (daí seu pensamento ser conhecido como "cartesiano"), é considerado o "pai da filosofia moderna".

Dentre suas obras, o Discurso do método e Meditações Metafísicas expressam a tendência de preocupação com o problema do conhecimento a que já nos referimos. O ponto de partida é a busca de uma verdade primeira que não possa ser posta em dúvida. Por isso, converte a dúvida em método. Começa duvidando de tudo, das afirmações  do senso comum, dos argumentos da autoridade, do testemunho dos sentidos, das informações da consciência, das verdades deduzidas pelo raciocínio, da realidade do mundo exterior e da realidade de seu próprio corpo.

O cogito

Descartes só interrompe essa cadeia de dúvidas diante do seu próprio ser que duvida. Se duvido, penso; se penso, existo: "Cogito, ergo sum". "Penso, logo existo". Eis aí o fundamento, o ponto de partida para a construção de todo o seu pensamento. Mas este "eu" cartesiano é puro pensamento, uma res cogitans (um ser pensante), pois, no caminho da dúvida, a realidade do corpo (res extensa, coisa externa, material) foi colocada em questão.

Não pretendemos fazer compreender a trajetória de Descartes, pois todo resumo é abstrato e mutilador. Mas o relato que se segue deve ser acompanhado pelo leitor com a estrita preocupação de observar como o autor constrói o racionalismo, priorizando o sujeito, não o objeto.

A partir dessa intuição primeira (a existência do ser que pensa), que é indubitável, Descartes distingue os diversos tipos de ideias, percebendo que algumas são duvidosas e confusas e outras são claras e distintas.

As ideias claras e distintas são ideias gerais que não derivam do particular, mas já se encontram no espírito, como instrumentos de fundamentação para a apreensão de outras verdades. São as ideias inatas, que não estão sujeitas a erro pois vêm da razão, independentes das ideias que "vêm de fora", formadas pela ação dos sentidos, e das outras que nós formamos pela imaginação. São inatas, não no sentido de o homem já nascer com elas, mas como resultantes exclusivas da capacidade de pensar. São ideias verdadeiras. Nessa classe estão a ideia da substância infinita de Deus e a ideia da substância finita, com seus dois grandes grupos - a res cogitans e a res extensa.

Embora o conceito de ideias claras e distintas resolva alguns problemas com relação à verdade de parte do nosso conhecimento, não dá nenhuma garantia de que o objeto pensado corresponda a uma realidade fora do pensa mento. Como sair do próprio pensamento e recuperar o mundo?

"Por intuição entendo não o testemunho mutável dos sentidos ou o juízo falaz (enganoso) de uma imaginação que compõe mal o seu objeto, mas a concepção de um espírito puro e atento, tão fácil e distinta, que nenhuma dúvida resta sobre o que compreendemos." (Descartes)

Consequências do cogito

Estabelece-se o caráter originário do cogito como auto evidência do sujeito pensante e princípio de todas as evidências.

Acentua-se o caráter absoluto e universal da razão que, partindo do cogito, só com suas próprias forças pode chegar a descobrir todas as verdades possíveis.

Daí a importância de um método de pensamento que garanta que as imagens mentais, ou representações da razão, correspondam aos objetos a que se referem e que são exteriores a essa mesma razão.

A partir do século XVII, passa-se a buscar o ideal matemático, isto é, ser uma mathesis universalis (matemática universal). Isso não significa aplicar a matemática no conhecimento do mundo, mas usar o seu tipo de conhecimento, que é completo, inteiramente dominado pela inteligência e baseado na ordem e na medida, permitindo estabelecer cadeias de razões.

Outra consequência é o dualismo psico-físico (ou dicotomia corpo-consciência), segundo o qual o homem é um ser duplo, composto de uma substância pensante e uma substância extensa. A conciliação das duas substâncias dificulta a reflexão de Descartes e gera antagonismos que serão objeto de debates nos dois séculos subsequentes.

Isso porque o corpo é uma realidade física e fisiológica e, como tal, possui massa, extensão no espaço e movimento, bem como desenvolve atividades de alimentação, digestão etc., estando, portanto, sujeito às leis deterministas da natureza. Por outro lado, os  fenômenos mentais não têm extensão no espaço nem localização. As principais atividades da mente são recordar, raciocinar, conhecer e querer; portanto, não se submetem às leis físicas, mas são o lugar da liberdade.


Estabelecem-se, então, dois domínios diferentes: o corpo, objeto de estudo da ciência, e a mente, objeto apenas da reflexão filosófica. Essa distinção, como veremos, marcará as dificuldades do início das chamadas ciências humanas.

FILOSOFANDO, INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
MARIA LÚCIA DE ARRUDA ARANHA

2018 - Aula Inaugural das Terceiras Séries



ESTÉTICA


Autor - Raffaello Sanzio
Data - 1509-1511 cerca
Técnica - Afresco
Dimensão - 500×770 cm
Local- Museu Vaticano, Città del Vaticano


Apresentação da obra e dos filósofos que serão trabalhados no bimestre a partir da " A Escola de Atenas" do pintor renascentista Raffaello Sanzio.
Conceito e história do termo: estética só foi introduzida no vocabulário filosófico em 1750, pelo filósofo alemão Alexander Baumgarte.

Etimologia:
Estética. Do grego aisthesis, significa “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”, “percepção totalizante” (perceber o todo).
Segundo Baumgarten a estética é a experiência sensível, e a partir do estudo da estética pode-se desenvolver uma “ciência do sensível” (experiência) pensando o sensível segundo um critério.
A estética como uma reflexão filosófica, enquanto uma experiência do sensível.
Não há experiência estética sem o sensível. Este sensível nos leva a procurar conhecer o conceito de arte, mas não é qualquer sensível, mas aquele que a obra de arte nos apresenta.
Seguindo alguns critérios, iremos iniciar esta experiência ou este movimento, que nos levará à experiência estética:

Observação [ observar com atenção]
Descrever [ tentar passar a real figura da obra de arte com palavras]
Interpretar [ deve basear-se nos elementos da obra]
Avaliação estética [ atribuir valor: falar sobre as qualidades da obra]
Reflexão filosófica [ pensar sobre a obra e sobre o que ela significa]

Segundo Paul Valéry:
“A superioridade do homem sobre os restantes seres da natureza, é devida aos seus pensamentos inúteis”.
É na inutilidade da arte que fazemos a diferença, buscando a contemplação ou a expressão do que sentimos. A obra de arte nos oferece meios para purificarmos nosso “espírito”, ou alimentar a nossa “mente”.

Exercício de reflexão
Apesar do valor intrínseco da arte, a educação estética para Schiller não é um fim em si mesmo, mas um processo pelo qual a humanidade precisa passar para retornar à sua essência verdadeira. Nesse ponto, terá atingido a necessária liberdade para se transformar no que achar apropriado dentro das circunstâncias existentes. (ARANHA e MARTINS, 2009, pág. 445).

Como Schiller, podemos dizer que faz parte da educação de um povo a inserção na cultura através da aprendizagem estético-filosófica, cabe ao professor de filosofia apresentar obras que modificaram o modo de pensar de uma geração, como a obra renascentista de Raffaello Sanzio.
Escola de Atenas exalta a busca racional. O afresco, emoldurado por um arco pintado, retrata os mais famosos filósofos e matemáticos da antiguidade, um em diálogo com o outro, dentro de um edifício clássico imaginário, representada em perspectiva perfeita.
As figuras estão dispostas substancialmente em dois planos definidos por uma escada ampla que corta toda a cena. Um primeiro e maior grupo está disposto em ambos os lados de um par central de figuras conversando, identificados como Platão e Aristóteles. Um segundo grupo independente, que foram identificados pensadores interessados no conhecimento da natureza e dos fenômenos celestes, é colocado no primeiro plano do lado esquerdo, ao passo que uma terceira, que também é independente, restritos e dispostos simetricamente em relação ao segundo, é difícil a identificação âmbito intelectual, apesar dos esforços dos estudiosos; pista é a presença de uma figura identificada em Euclides (ou Arquimedes), o que denota a intenção de estabelecer uma prova geométrica.
O grande afresco constitui definitivamente um "manifesto" do homem, uma concepção antropocêntrica Renascentista. O homem domina a realidade, graças às suas faculdades intelectuais, colocando-se no centro do universo, em uma linha de continuidade entre a Antiguidade clássica e o cristianismo. Se a perspectiva recorda a
estrutura da antiga basílica, a geometria em que os personagens estão dispostos simboliza a confiança de Raffaello na ordem do mundo, uma ordem divina e intelectual ao mesmo tempo.

Segundo Giovanni Reale (1997):

"A arte de Raffaello é um atenuante da metafísica", a justa medida, o que para Platão coincide com o bem e com a verdade e [...] é, portanto, o supremo Bem e a Verdade perante o Belo. E eu acredito que com a assinatura do ‘pequeno entre os grandes’, Raffaello também se apresenta como um filósofo, sem dúvida, nesta dimensão: a arte é alta filosofia, como explicação de harmonias numéricas, de beleza visível, tornando-se harmonias, em última análise, a estrutura do ser".


Referências Bibliográficas:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução à Filosofia/ Maria Lúcia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires Martins. – 4. Ed. – São Paulo: Moderna, 2009.
REALE, Giovanni. La scuola di Atene di Raffaello, Bompiani, Milão 2005, p. 65-68.
SÃO PAULO, Currículo do Estado. Caderno do Professor/ Filosofia, 3ª série, vol.1, Nova edição, São Paulo, 2014 – 2017.
THARRATS, Joan-Josep. História Geral da Arte, Ed. Del Prado, 1995, Espanha.
VALERY. Paul, Apud: História Geral da Arte, Ed. Del Prado, 1995, Espanha.
Aula elaborada por: Professora Maria Aparecida Souza Oliveira.
masoyki@gmail.com