quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

1ª Aula dos 3ºs anos - 2017 - Aula Inaugural - Estética

"A Escola de Atenas"




Autor - Raffaello Sanzio
Data - 1509-1511 cerca
Técnica - Afresco
Dimensão - 500×770 cm
Local- Museu Vaticano, Città del Vaticano


Apresentação da obra e dos filósofos que serão trabalhados no bimestre a partir da " A Escola de Atenas" do pintor renascentista Raffaello Sanzio.

Conceito e história do termo: estética só foi introduzida no vocabulário filosófico em 1750, pelo filósofo alemão Alexander Baumgarte.

Etimologia:
Estética. Do grego aisthesis, significa “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”, “percepção totalizante” (perceber o todo).
Segundo Baumgarten a estética é a experiência sensível, e a partir do estudo da estética pode-se desenvolver uma “ciência do sensível” (experiência) pensando o sensível segundo um critério.
A estética como uma reflexão filosófica, enquanto uma experiência do sensível.
Não há experiência estética sem o sensível. Este sensível nos leva a procurar conhecer o conceito de arte, mas não é qualquer sensível, mas aquele que a obra de arte nos apresenta.
Seguindo alguns critérios, iremos iniciar esta experiência ou este movimento, que nos levará à experiência estética:

Observação [ observar com atenção]
Descrever [ tentar passar a real figura da obra de arte com palavras]
Interpretar [ deve basear-se nos elementos da obra]
Avaliação estética [ atribuir valor: falar sobre as qualidades da obra]
Reflexão filosófica [ pensar sobre a obra e sobre o que ela significa]

Segundo Paul Valéry:
“A superioridade do homem sobre os restantes seres da natureza, é devida aos seus pensamentos inúteis”.

É na inutilidade da arte que fazemos a diferença, buscando a contemplação ou a expressão do que sentimos. A obra de arte nos oferece meios para purificarmos nosso “espírito”, ou alimentar a nossa “mente”.

Exercício de reflexão
Apesar do valor intrínseco da arte, a educação estética para Schiller não é um fim em si mesmo, mas um processo pelo qual a humanidade precisa passar para retornar à sua essência verdadeira. Nesse ponto, terá atingido a necessária liberdade para se transformar no que achar apropriado dentro das circunstâncias existentes. (ARANHA e MARTINS, 2009, pág. 445). 

Como Schiller, podemos dizer que faz parte da educação de um povo a inserção na cultura através da aprendizagem estético-filosófica, cabe ao professor de filosofia apresentar obras que modificaram o modo de pensar de uma geração, como a obra renascentista de Raffaello Sanzio.
Escola de Atenas exalta a busca racional. O afresco, emoldurado por um arco pintado, retrata os mais famosos filósofos e matemáticos da antiguidade, um em diálogo com o outro, dentro de um edifício clássico imaginário, representada em perspectiva perfeita.
As figuras estão dispostas substancialmente em dois planos definidos por uma escada ampla que corta toda a cena. Um primeiro e maior grupo está disposto em ambos os lados de um par central de figuras conversando, identificados como Platão e Aristóteles. Um segundo grupo independente, que foram identificados pensadores interessados no conhecimento da natureza e dos fenômenos celestes, é colocado no primeiro plano do lado esquerdo, ao passo que uma terceira, que também é independente, restritos e dispostos simetricamente em relação ao segundo, é difícil a identificação âmbito intelectual, apesar dos esforços dos estudiosos; pista é a presença de uma figura identificada em Euclides (ou Arquimedes), o que denota a intenção de estabelecer uma prova geométrica.
O grande afresco constitui definitivamente um "manifesto" do homem, uma concepção antropocêntrica Renascentista. O homem domina a realidade, graças às suas faculdades intelectuais, colocando-se no centro do universo, em uma linha de continuidade entre a Antiguidade clássica e o cristianismo. Se a perspectiva recorda a estrutura da antiga basílica, a geometria em que os personagens estão dispostos simboliza a confiança de Raffaello na ordem do mundo, uma ordem divina e intelectual ao mesmo tempo.


Segundo Giovanni Reale (1997):
 "A arte de Raffaello é um atenuante da metafísica", a justa medida, o que para Platão coincide com o bem e com a verdade e [...] é, portanto, o supremo Bem e a Verdade perante o Belo. E eu acredito que com a assinatura do ‘pequeno entre os grandes’, Raffaello também se apresenta como um filósofo, sem dúvida, nesta dimensão: a arte é alta filosofia, como explicação de harmonias numéricas, de beleza visível, tornando-se harmonias, em última análise, a estrutura do ser".


Referências Bibliográficas:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução à Filosofia/ Maria Lúcia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires Martins. – 4. Ed. – São Paulo: Moderna, 2009.

REALE, Giovanni.  La scuola di Atene di Raffaello, Bompiani, Milão 2005, p. 65-68.

SÃO PAULO, Currículo do Estado. Caderno do Professor/ Filosofia, 3ª série, vol.1, Nova edição, São Paulo, 2014 – 2017.

THARRATS, Joan-Josep. História Geral da Arte, Ed. Del Prado, 1995, Espanha.

VALERY. Paul, Apud: História Geral da Arte, Ed. Del Prado, 1995, Espanha.

Aula em pdf: 
Estética

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

René Descartes e o Racionalismo - 2ºs anos do Ensino Médio - 2017




A DESCOBERTA DA RAZÃO

           Há uma linha direta de pensadores que nasce em Sócrates e Platão, passa por Santo Agostinho e chega a Descartes. Todos eram racionalistas típicos, convictos de que a razão é o único caminho para o conhecimento. Depois de muito estudar, Descartes concluiu que o conhecimento herdado da Idade Média não era necessariamente confiável. Tal como Sócrates, decidiu criar uma filosofia própria.
            Descartes foi o fundador da filosofia moderna. Após a impetuosa redescoberta do homem como centro de tudo (antropocentrismo) e da Natureza no Renascimento, a necessidade de reunir o pensamento contemporâneo em um sistema filosófico coerente voltou a se apresentar. Descartes foi o primeiro a formular um sistema desses. A ele se seguiram Spinoza e Leibniz, Locke e Berkeley, Hume e Kant.

          O SISTEMA CARTESIANO
           A principal preocupação de Descartes era com aquilo que podemos conhecer, ou, em outras palavras, o conhecimento verdadeiro. Quando se tratava da aquisição do conhecimento verdadeiro, muitos dos contemporâneos de Descartes expressavam um total ceticismo filosófico. Achavam que o homem deveria aceitar o fato de que nada sabe. Mas Descartes não aceitava tal imposição.
            Foi na época de Descartes que as novas ciências naturais elaboraram um método científico que propiciaria descrições precisas dos processos e fenômenos naturais. Descartes se perguntou se haveria um método igualmente confiável de reflexão filosófica. O sistema que ele procurava deveria ser uma filosofia construída de modo a incluir todos os aspectos da realidade do mundo e buscar as explicações para todas as questões centrais da filosofia. A Antiguidade teve grandes construtores de sistemas, nas figuras de Platão e Aristóteles. A Idade Média teve são Tomás de Aquino, que tentou construir uma ponte entre a filosofia de Aristóteles e a teologia cristã. Em seguida, veio o Renascimento, com a fusão de novas e velhas crenças sobre a Natureza e a ciência, Deus e o homem. Mas foi somente no século XVII que os filósofos passaram a tentar reunir novas ideias em sistemas filosóficos claros e o primeiro a fazê-lo foi Descartes.

        PRIMEIRA VERDADE – PENSO, LOGO EXISTO
          Descartes era matemático e pretendia usar o “método matemático” até mesmo para filosofar. Estava disposto a provar verdades filosóficas da mesma forma que se demonstra um teorema matemático, ou seja, pelo uso da razão, uma vez que apenas a razão pode nos dar a certeza sobre as coisas, pois acreditava que não é certo que podemos confiar em nossos sentidos. Considerava que somente poderia ser aceito como verdadeiro aquilo que se apresentasse claro e distintamente à razão. Para tanto, Descartes estabelece quatro regras (método cartesiano) por ele aplicadas para fundamentar sua filosofia:

1 – Regra da EVIDÊNCIA: acolher apenas o que aparece ao espírito como ideia clara e distinta;
2 – Regra da ANÁLISE: dividir cada dificuldade em parcelas menores para resolvê-las por parte;
3 – Regra da ORDEM: conduzir por ordem os pensamentos, começando pelos objetos mais   simples e mais fáceis de conhecer para só depois avançar nos mais complexos e compostos e
4 – Regra da ENUMERAÇÃO: fazer revisões gerais de tudo o que foi feito para se ter certeza de que nada foi omitido.

O objetivo de Descartes era chegar a uma certeza sobre a natureza da vida, isto é, em que ela consiste. Ele começou por afirmar que, em primeiro lugar, devemos duvidar de tudo. Isso porque ele buscava um fundamento para seu sistema que fosse absolutamente sólido, acima de qualquer dúvida. 

Era importante para Descartes libertar-se de todo o conhecimento herdado antes de construir um sistema filosófico, porque percebeu que tal conhecimento não lhe garantia a construção de um sistema seguro.

O exercício da dúvida cartesiana tornou-se uma referência importantíssima e um clássico da filosofia moderna. Tal exercício foi conduzido pelo filósofo da seguinte maneira:

Dúvida metódica: porque a dúvida vai se ampliando passo a passo, de maneira ordenada e lógica;
Dúvida radical: porque a dúvida vai atingindo a tudo e chega a um ponto extremo em que não é possível ter certeza de nada, nem de que o mundo existe. Como em um jogo, uma brincadeira, Descartes tentou duvidar, até da própria existência. É uma dúvida também chamada hiperbólica, isto é, maior do que o normal, maior do que o esperado, bastante difícil de atingir.

Assim, dizia ele, mesmo o que vemos com nossos próprios olhos está longe da certeza. Sabemos que, às vezes, nossos sentidos nos iludem. Como ter certeza, então, de que não estamos sendo iludidos o tempo todo? Descartes chegou a pensar que poderia ser bastante possível que nossa vida inteira não passasse de um sonho.

“Quando penso bem sobre isso, não encontro uma única característica que marque com certeza a diferença entre o estar acordado e o sonho”, escreveu ele. E prosseguiu: “Como podemos estar certos de que toda a nossa vida não passa de um sonho?”. Duvidava, até mesmo, da existência de seu corpo e das coisas do mundo exterior.

Parecia não haver nada de que pudesse estar certo. Mas Descartes tentou avançar a partir desse ponto zero. Logo se deu conta de que pouca coisa restava além da dúvida. Duvidava de tudo e essa era a única coisa de que tinha certeza. Mas então lhe ocorreu uma ideia: havia, afinal, algo verdadeiro e era o fato de que duvidava. Quando ele duvidava, percebia que estava pensando e, porque estava pensando, tinha de ser verdadeiro que ele existia. Ou, como ele mesmo expressou: Cogito ergo sum, que significa “Penso, logo existo”. Essa conclusão lhe dava garantia de que existia, pois não era possível imaginar alguém tendo um pensamento de dúvida e não existir.

Descartes descobriu, então, que existia porque ele pensava, independentemente de possuir um corpo, algo que ele já tinha posto em dúvida. Assim, chegou à conclusão de que possuir um corpo não faria parte da sua natureza absoluta, isto é, não faria parte da sua descoberta. Sua essência seria a de ser algo pensante, ou como ele mesmo expressou: sum res cogitans, que significa: “Sou um ser pensante”.

Referências:
CHAUI, Marilena. Convite a Filosofia. Editora Ática, São Paulo, 1997.


Para ilustrar, vamos ler essa história em quadrinhos: Escrita por Fred Van Lente e Ilustrada por Ryan Dunlavey.

Para os 3ºs do Ensino Médio - 2017




Título:Textos Básicos de Filosofia Autor:Danilo Marcondes Editora: Jorge Zahar Ano: 2007 Páginas: 180 ISBN/EAN: 9-788571-105201

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Textos Básicos de Filosofia