segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Os regimes políticos



Excerto da Obra Convite à Filosofia de Marilena Chaui:

Dois vocábulos gregos são empregados para compor as palavras que designam os regimes políticos: arche – o que está à frente, o que tem comando – e kratos – o poder ou autoridade suprema. As palavras compostas com arche (arquia) designam quantos estão no comando. As compostas com kratos (cracia) designam quem está no poder.
Assim, do ponto de vista da arche, os regimes políticos são: monarquia ou governo de um só (monas), oligarquia ou governo de alguns (oligos), poliarquia ou governo de muitos (polos) e anarquia ou governo de ninguém (ana).
Do ponto de vista do kratos, os regimes políticos são: autocracia (poder de uma pessoa reconhecida como rei), aristocracia (poder dos melhores), democracia (poder do povo).
Na Grécia e na Roma arcaicas predominaram as monarquias. No entanto, embora os antigos reis afirmassem ter origem divina e vontade absoluta, a sociedade estava organizada de tal forma que o governante precisava submeter as decisões a um Conselho de Anciãos e à assembleia dos guerreiros ou chefes militares. Isso fez com que, pouco a pouco, o regime se tornasse oligárquico, ficando nas mãos das famílias mais ricas e militarmente mais poderosas, cujos membros se consideravam os “melhores”, donde a formação da aristocracia.
O único regime verdadeiramente democrático foi o de Atenas. Nas demais cidades gregas e em Roma, o regime político era oligárquico-aristocrático, as famílias ricas sendo hereditárias no poder, mesmo quando admitiam a entrada de novos membros no governo, pois as novas famílias também se tornavam hereditárias.
Devemos a Platão e a Aristóteles duas ideias políticas, elaboradas a partir da experiência política antiga: a primeira delas é a distinção entre regimes políticos e não-políticos; a segunda, a da transformação de um regime político em outro.
Um regime só é político se for instituído por um corpo de leis publicamente reconhecidas e sob as quais todos vivem, governantes e súditos, governantes e cidadãos. Em suma, é político o regime no qual os governantes estão submetidos às leis. Quando a lei coincide com a vontade pessoal e arbitrária do governante, não há política, mas despotismo e tirania. Quando não há lei de espécie alguma, não há política, mas anarquia.

A presença ou ausência da lei conduz à ideia de regimes políticos legítimos e ilegítimos. Um regime é legítimo quando, além de legal, é justo (as leis são feitas segundo a justiça); um regime é ilegítimo quando a lei é injusta ou quando é contrário à lei, isto é, ilegal, ou, enfim, quando não possui lei alguma.

CHAUI. Marilena, Convite à Filosofia, Ed. Ática, São Paulo, 2000, p.495/496.

domingo, 23 de outubro de 2016

Aula de Estética ( 3ªs séries do Ensino Médio)

Aula 1 de Estética.

Conceito e história do termo: Embora a arte faça parte do mundo humano desde a Pré-história e tenha ocupado lugar de grande importância em todas as civilizações, a palavra estética só foi introduzida no vocabulário filosófico em 1750 pelo filósofo alemão Alexander Baumgarten.
Etimologia:
Estética. Do grego aisthesis, significa “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”, “percepção totalizante” ( perceber o todo).
Segundo Baumgarten a estética é a experiência sensível, e a partir do estudo da estética podemos desenvolver uma “ciência do sensível” (experiência) pensando o sensível segundo um critério.
Podemos dizer que a estética é uma reflexão filosófica enquanto uma experiência do sensível.
Não há experiência estética sem o sensível. Este sensível nos leva a procurar conhecer o conceito de arte, mas não é qualquer sensível, mas aquele que a obra de arte nos apresenta.
Seguindo alguns critérios, podemos iniciar esta experiência ou este movimento, que nos levará à experiência estética:
1)      Observação [ observar com atenção]
2)      Descrever [ tentar passar a real figura da obra de arte com palavras]
3)      Interpretar [ deve basear-se nos elementos da obra]
4)      Avaliação estética [ atribuir valor: falar sobre as qualidades da obra]
5)      Reflexão filosófica [ pensar sobre a obra e sobre o que ela significa]

Segundo Paul Valéry[1], “A superioridade do homem sobre os restantes seres da natureza, é devida aos seus pensamentos inúteis”.
É na inutilidade da arte que fazemos a diferença, buscando a contemplação ou a expressão do que sentimos. A obra de arte nos oferece meios para purificarmos nosso “espírito”, ou alimentar a nossa “mente”. 
Exercício de reflexão
Apesar do valor intrínseco da arte, a educação estética para Schiller não é um fim em si mesmo, mas um processo pelo qual a humanidade precisa passar para retornar à sua essência verdadeira. Nesse ponto, terá atingido a necessária liberdade para se transformar no que achar apropriado dentro das circunstâncias existentes. (MARTINS, 2009, pág. 445). 

Como Schiller, podemos dizer que faz parte da educação de um povo a inserção na cultura através da aprendizagem estético filosófica, cabe ao professor de filosofia apresentar obras que modificaram o modo de pensar de uma geração e ao mesmo tempo, que tenha contribuído para denunciar uma atrocidade contra os Direitos Humanos, como a obra de Pablo Picasso, Guernica.

PICASSO, Pablo. Guernica, 1937. Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, Madri.


Referência:
Aranha, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução à Filosofia/ Maria Lúcia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires Martins. – 4. Ed. – São Paulo: Moderna, 2009.
Picasso, Pablo. Abril Coleções; tradução de José Ry Gandra. – São Paulo: Ed. Abril, 2011.
Tharrats, Joan-Josep. História Geral da Arte, Ed. Del Prado, 1995, Espanha.


[1]  Paul Valery, História Geral da Arte, Ed. Del Prado, 1995, Espanha.




segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Texto para as Terceiras Séries do Ensino Médio - Poder e Conflito

Clique no link abaixo e acesse o texto completo.  

http://gostandodefilosofia.blogspot.com.br/p/pagina-de-textos-das-atividades-3s-anos.html

O Existencialismo


Na antiguidade:
Para Aristóteles, a essência humana existe antes mesmo de o ser humano existir. Ao longo da vida humana, a essência vai se realizando com a ação.
Para ilustrarmos o pensamento de Aristóteles podemos utilizar como exemplo uma semente:
Uma semente de maçã é uma maçã em potência, ou seja, a semente traz em si mesma a identidade do fruto da macieira e da própria macieira.
O crescimento da macieira nada mais é do que a realização de sua essência.

Na contemporaneidade:
A filosofia existencial se opõe a ideia de Aristóteles e afirma que, no caso do ser humano, “a existência precede a essência”. O ser humano não tem essência ao nascer; vai construindo aquilo que é ao longo de sua vida, ao longo de sua existência.

Vamos destacar aqui o filósofo Jean Paul Sartre https://www.ebiografia.com/jean_paul_sartre/)

Sartre abandona a ideia de natureza humana, pois se não nascemos com uma essência, não temos uma natureza, o que temos é uma condição, a “condição humana”.

A condição humana determina que o ser humano construa sempre sua identidade. Ele nunca é alguma coisa, ele sempre está em determinada condição. Vocês hoje estão estudantes, assim como um dia estarão universitários, profissionais de determinada área, etc. Mas nenhuma dessas realidades dá ou dará a vocês uma identidade fixa. Por isso, Sartre afirma que o humano não é propriamente um ser, mas um vir-a-ser, na medida em que ele é sempre um projeto.
Para Sartre “o homem está condenado a ser livre”, pois a única escolha que ele não pode fazer é a de não ser livre. O ser humano é livre porque sua existência é gratuita, contingente, não tem uma finalidade definida. Na medida em que é nada, o humano pode ser tudo, pode ser qualquer coisa.
A liberdade se traduz no ato da escolha. Temos todas possibilidades, e temos sempre que escolher entre essas possibilidades.
Exemplo: Se você está na escola, pode decidir assistir ou não à aula.
E toda escolha tem suas consequências, pelas quais somos responsáveis. Assim, a liberdade gera em nós uma angústia: a angústia de ter que decidir, a angústia de se saber responsável pela escolha e por suas consequências.
A escolha gera uma responsabilidade por toda a humanidade, pois alguém escolhe sempre para si mesmo e pelos outros. Se escolho, por exemplo, a vida do crime, estou afirmando que ela é uma boa opção, e não apenas para mim, mas para  todos os outros seres humanos. E sou responsável por ela.
Na conferência que Sartre fez em 1946 defendeu que o “existencialismo é um humanismo”.


Exercício de reflexão.
Vamos refletir sobre o que nos diz a poetisa brasileira Cora Coralina:
“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar, porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é decidir.” ( Cora Coralina).


Gostaria que os alunos lessem o texto: O existencialismo é um humanismo, pegar o texto no blog de filosofia –

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Os fantásticos livros voadores do Senhor Lessmore.



A obra busca mostrar o poder que um livro tem de transportar o leitor para um novo mundo. O filme apresenta técnicas inovadoras de animação que, juntamente com a trilha sonora imprescindível, leva o espectador a uma viagem fantástica,  assistam ao excelente filme de curta metragem : Os fantásticos livros voadores do Senhor Lessmore.

Ficha Técnica
Gênero: Animação
Direção: Brandon Oldenburg, William Joyce
Roteiro: William Joyce
Produção: Alissa M. Kantrow, Iddo Lampton Enochs Jr., Trish Farnsworth-Smith
Trilha Sonora: John Hunter
Duração: 15 min.
Ano: 2011
País: Estados Unidos
Cor: Colorido

Prêmio: Oscar 2012, vencedor na categoria Melhor Animação em Curta-Metragem

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Valores e tipos de valor


Mas o que são os valores? Qual é a sua natureza? As coisas têm valor porque as valorizamos, ou valorizamo-las porque têm valor? A axiologia, também chamada filosofia dos valores ou teoria dos valores, procura responder a estas perguntas. A axiologia estuda a natureza dos valores em geral, o significado e as características das afirmações que referem valores (os juízos de valor), analisa a possibilidade de esses juízos serem verdadeiros ou falsos e as condições em que o poderão ser (Galvão, Lopes & Mateus, 2013, p. 76). Os filósofos discordam em relação ao que sejam os valores (como, de resto, em relação a quase tudo). Uns pensam que os valores são ideias que existem apenas na mente de quem neles pensa, outros pensam que os valores são realidades abstratas com alguma independência dos sujeitos. Uma definição neutra e consensual dos valores apresenta-no-los como “aquilo que nos leva a ter preferência e interesse por algumas coisas, pessoas, ações, situações, etc., e não por outras, e, por isso, a avaliá-las positiva ou negativamente” (Galvão & Lopes, 2012, p. 32). Entendidos deste modo, os valores são critérios de ação, orientam as nossas decisões, dão-nos uma linha de rumo:

Permitem avaliar pessoas e situações, e ajudam-nos a classificar as coisas como boas ou más, desejáveis ou indesejáveis, benéficas ou prejudiciais. (Ruas, 2013, p. 85)

Os valores são diversos. Vão desde as ações cotadas na bolsa — que têm um valor econômico — aos mais elevados valores morais, desde o copo de água, capaz de matar a sede, até ao que pensamos que nos ajuda a aproximar-nos de Deus — como a fé. Dada a grande diversidade de valores, é costume agrupá-los em áreas ou domínios. Entre os mais estudados em filosofia, temos os valores éticos, os estéticos e os religiosos. Valores como a bondade, a solidariedade, o respeito, a honestidade, a lealdade, a justiça e a liberdade são valores éticos. Valores como a beleza, a graciosidade, a harmonia e a elegância são valores estéticos. Valores como a fé, o sagrado e a pureza são valores religiosos.

Excerto do Artigo " Valores, juízos de valor e teorias" de António Padrão publicado na Revista Eletrônica Crítica na Rede em 2 de outubro de 2016.


http://criticanarede.com/valor.html    (acesso em 03/10/2016)