Nascido na cidade de Estagira, dominada pela Macedônia, Aristóteles se transferiu para Atenas em 367 antes de Cristo, ingressando na Academia, o centro de estudos fundado por Platão vinte anos antes. Em 347, com a morte de Platão, deixa Atenas e vive em Assos e em Mitilene. Em 343, chamado pelo rei da Macedônia, Filipe, torna-se preceptor de Alexandre, filho de Filipe, que em 336 seria coroado rei e iniciaria a expansão do império macedônio até a Índia — o que lhe valeria o título de Alexandre, o Grande. Retornando a Atenas em 335, Aristóteles funda o Liceu, uma escola superior constituída nos mesmos moldes da Academia. Em 322, já afastado de Atenas devido ao sentimento antimacedônio predominante na cidade — que desde 338 estava sob o poder de Filipe —, o filósofo morre em Cálcis, na ilha de Eubéia.
“Todos os homens tendem ao saber”
A seguir, os primeiros parágrafos do livro I da Metafísica de Aristóteles.
“Todos os homens, por natureza, tendem ao saber. Sinal disso é o amor pelas sensações. De fato, eles amam as sensações por si mesmas, independentemente da sua utilidade e amam, acima de todas, a sensação da visão. Com efeito, não só em vista da ação, mas mesmo sem ter nenhuma intenção de agir, nós preferimos o ver, em certo sentido, a todas as outras sensações. E o motivo está no fato de que a visão nos proporciona mais conhecimentos do que todas as outras sensações e nos torna manifestas numerosas diferenças entre as coisas.
Os animais são naturalmente dotados de sensação; mas em alguns da sensação não nasce a memória, ao passo que em outros nasce. Por isso estes últimos são mais inteligentes e mais aptos a aprender do que os que não têm capacidade de recordar. São inteligentes, mas incapazes de aprender, todos os animais incapacitados de ouvir os sons (por exemplo a abelha e qualquer outro gênero de animais desse tipo); ao contrário, aprendem todos os que, além da memória, possuem também o sentido da audição.
Ora, enquanto os outros animais vivem com imagens sensíveis e com recordações, e pouco participam da experiência, o gênero humano vive também da arte e de raciocínios. Nos homens, a experiência deriva da memória. De fato, muitas recordações do mesmo objeto chegam a constituir uma experiência única. A experiência parece um pouco semelhante à ciência e à arte. Com efeito, os homens adquirem ciência e arte por meio da experiência. A experiência, como diz Polo, produz a arte, enquanto a inexperiência produz o puro acaso. A arte se produz quando, de muitas observações da experiência, forma-se um juízo geral e único passível de ser referido a todos os casos semelhantes.
Por exemplo, o ato de julgar que determinado remédio fez bem a Cálias, que sofria de certa enfermidade, e que também fez bem a Sócrates e a muitos outros indivíduos, é próprio da experiência; ao contrário, o ato de julgar que a todos esses indivíduos, reduzidos à unidade segundo a espécie, que padeciam de certa enfermidade, determinado remédio fez bem (por exemplo, aos fleumáticos, aos biliosos e aos febris) é próprio da arte.
Ora, em vista da atividade prática, a experiência em nada parece diferir da arte; antes, os empíricos têm mais sucesso do que os que possuem a teoria sem a prática. E a razão disso é a seguinte: a experiência é conhecimento dos particulares, enquanto a arte é conhecimento dos universais; ora, todas as ações e as produções referem-se ao particular. De fato, o médico não cura o homem a não ser acidentalmente, mas cura Cálias ou Sócrates ou qualquer outro indivíduo que leva um nome como eles, ao qual ocorra ser homem. Portanto, se alguém possui a teoria sem a experiência e conhece o universal mas não conhece o particular que nele está contido, muitas vezes errará o tratamento, porque o tratamento se dirige, justamente, ao indivíduo particular.”
Metafísica, de Aristóteles, edição de Giovanni Reale, tradução de Marcelo Perine, volumes I (Ensaio introdutório), II (Texto grego com tradução ao lado) e III (Sumário e comentários), Edições Loyola (telefone 11 6914-1922).
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