sexta-feira, 18 de março de 2016

MONTESQUIEU e o ESPÍRITO DAS LEIS


Prefácio da obra

Se, na quantidade infinita de coisas que estão neste livro, houvesse alguma que, contrariamente ao que esperava, pudesse ofender, pelo menos não há nenhuma que tenha sido colocada com má intenção. Não tenho naturalmente um espírito desaprovados. Platão agradecia ao céu ter nascido no tempo de Sócrates; e eu lhe agradeço ter me feito nascer
no governo onde vivo e ter querido que eu obedecesse àqueles que me fez amar.
Peço uma graça que temo não me ser concedida: é de não julgarem, pela leitura de um momento, um trabalho de vinte anos; de aprovarem ou condenarem um livro inteiro, e não algumas frases. Se quiserem procurar o objetivo do autor, só podem bem descobri-lo no objetivo da obra.
Examinei primeiro os homens, e achei que nesta infinita diversidade de leis e de costumes eles não eram conduzidos somente por suas fantasias.
Coloquei os princípios e vi os casos particulares dobrarem-se diante deles como que por si mesmos, as histórias de todas as nações não serem mais do que suas conseqüências, e cada lei particular estar ligada a outra lei ou depender de outra mais geral.
Quando fui levado à Antiguidade, procurei captar seu espírito, para não ver como semelhantes casos realmente diferentes e não perder as diferenças daqueles que parecem semelhantes.
Não tirei meus princípios de meus preconceitos, e sim da natureza das coisas.
Aqui, muitas verdades só se mostrarão depois que se tiver visto a cadeia que as liga a outras. Quanto mais se pensar sobre os pormenores, mais se sentirá a certeza dos princípios. Estes próprios pormenores, não os citei todos, pois quem poderia dizer tudo sem causar um mortal aborrecimento?
Não se encontrarão aqui estes traços salientes que parecem caracterizar as obras de hoje.
Por pouco que se vejam as coisas com certa amplitude, essas saliências se desvanecem; elas só nascem, normalmente, porque o espírito se lança todo para um lado e abandona todos os outros.
Não estou escrevendo para censurar o que está estabelecido em qualquer país que seja.
Cada nação encontrará aqui as razões de suas máximas; e disto se tirará naturalmente a conseqüência de que só cabe propor mudanças àqueles que tiveram um nascimento bastante feliz para penetrarem com um golpe de gênio toda a constituição de um Estado.
Não é indiferente que o povo esteja esclarecido. Os preconceitos dos magistrados começaram por ser os preconceitos da nação. Numa época de ignorância, não existem dúvidas, mesmo quando se fazem os maiores males; numa época de luzes, treme-se ainda quando se fazem os maiores bens. Sentem-se os antigos abusos, vê-se a sua correção; mas
vêem se também os abusos da própria correção. Deixa-se o mal, quando se teme o pior; deixa-se o bom, quando se está em dúvida sobre o melhor. Só se olham as partes para julgar cio todo em conjunto; examinam-se todas as causas para ver todos os resultados.
Se eu pudesse fazer com que todos tivessem novas razões para amarem seus deveres, seu príncipe, sua pátria, suas leis, com que pudessem sentir melhor sua felicidade em cada país, em cada governo, em cada cargo que ocupam, considerar-me-ia o mais feliz dos mortais.
Se eu pudesse fazer que aqueles que comandam aumentassem seus conhecimentos sobre o que devem prescrever, e se aqueles que obedecem encontrassem um novo prazer em obedecer, mortais.
Considerar-me-ia o mais feliz dos mortais se eu pudesse fazer com que os homens conseguissem curar-se de seus preconceitos. Chamo aqui de preconceitos não o que faz com que se ignorem certas coisas, e sim o que faz com que se ignore a si mesmo.
É procurando instruir os homens que se pode praticar esta virtude geral que compreende o amor de todos. O homem, este ser flexível, dobrando-se na sociedade aos pensamentos e às impressões dos outros, é igualmente capaz de conhecer sua própria natureza, quando ela lhe é mostrada, e de perder até seu sentimento, se ela lhe é ocultada.
Muitas vezes comecei, e muitas vezes abandonei esta obra; mil vezes lancei aos ventos as folhas que havia escrito; sentia todos os dias as mãos paternas caírem ; seguia meu objeto sem formar objetivo; não conhecia nem as regras, nem as exceções; só encontrava a verdade para perdê-la. Mas quando descobri meus princípios tudo o que procurava veio a
mim; e, durante vinte anos, vi minha obra começar, crescer, avançar e terminar.
Se esta obra tiver sucesso, devê-lo-ei muito à majestade de meu assunto; no entanto, não creio ter carecido totalmente de gênio. Quando vi o que tantos grandes homens, na França, na Inglaterra e na Alemanha, escreveram antes de mim, fiquei admirado; mas não perdi a coragem: E eu também sou pintor, disse eu, com Correggio.




file:////Lenin/Rede Local/Equipe/Michele/MONTESQUIEU - O Espírito das Leis2.txt (315 of 315)     ( acesso em 18/03/2016).

Correggio é como era conhecido o pintor italiano Antônio Allegri. Foi um pintor da Renascença italiana, contemporâneo de Leonardo Da Vinci e Rafaelo Sanzio, com obras nos principais museus de todo o mundo.

Torna-te quem tu é




"Quanta verdade suporta um espírito? Pois bem, não somos nada! Somos este caos que se perde nas bordas de si mesmo, um animal na jaula, somos as ondas que batem contra o rochedo, somos o deserto que se esparrama pelo mapa, por onde os ventos cruzam e as dunas se movem. [...] Mas estas forças que nos constituem estão constantemente pressionando, arrastando, empurrando o homem de um lado para o outro. Quem crê no sujeito são os fracos. Tornar-se quem se é significa transvalorar os valores, escolher outros, novos, brilhantes. Encontrar um modo de vida propício ao aumento de suas próprias forças vitais. Quebrar a corrente de escravo, nem mestre nem Deus, não ter mais nenhum senhor além de si mesmo." 

NIETZSCHE.

quarta-feira, 16 de março de 2016

ARISTÓTELES e a METAFÍSICA



Nascido na cidade de Estagira, dominada pela Macedônia, Aristóteles se transferiu para Atenas em 367 antes de Cristo, ingressando na Academia, o centro de estudos fundado por Platão vinte anos antes. Em 347, com a morte de Platão, deixa Atenas e vive em Assos e em Mitilene. Em 343, chamado pelo rei da Macedônia, Filipe, torna-se preceptor de Alexandre, filho de Filipe, que em 336 seria coroado rei e iniciaria a expansão do império macedônio até a Índia — o que lhe valeria o título de Alexandre, o Grande. Retornando a Atenas em 335, Aristóteles funda o Liceu, uma escola superior constituída nos mesmos moldes da Academia. Em 322, já afastado de Atenas devido ao sentimento antimacedônio predominante na cidade — que desde 338 estava sob o poder de Filipe —, o filósofo morre em Cálcis, na ilha de Eubéia.

“Todos os homens tendem ao saber”

A seguir, os primeiros parágrafos do livro I da Metafísica de Aristóteles.

“Todos os homens, por natureza, tendem ao saber. Sinal disso é o amor pelas sensações. De fato, eles amam as sensações por si mesmas, independentemente da sua utilidade e amam, acima de todas, a sensação da visão. Com efeito, não só em vista da ação, mas mesmo sem ter nenhuma intenção de agir, nós preferimos o ver, em certo sentido, a todas as outras sensações. E o motivo está no fato de que a visão nos proporciona mais conhecimentos do que todas as outras sensações e nos torna manifestas numerosas diferenças entre as coisas.
Os animais são naturalmente dotados de sensação; mas em alguns da sensação não nasce a memória, ao passo que em outros nasce. Por isso estes últimos são mais inteligentes e mais aptos a aprender do que os que não têm capacidade de recordar. São inteligentes, mas incapazes de aprender, todos os animais incapacitados de ouvir os sons (por exemplo a abelha e qualquer outro gênero de animais desse tipo); ao contrário, aprendem todos os que, além da memória, possuem também o sentido da audição.
Ora, enquanto os outros animais vivem com imagens sensíveis e com recordações, e pouco participam da experiência, o gênero humano vive também da arte e de raciocínios. Nos homens, a experiência deriva da memória. De fato, muitas recordações do mesmo objeto chegam a constituir uma experiência única. A experiência parece um pouco semelhante à ciência e à arte. Com efeito, os homens adquirem ciência e arte por meio da experiência. A experiência, como diz Polo, produz a arte, enquanto a inexperiência produz o puro acaso. A arte se produz quando, de muitas observações da experiência, forma-se um juízo geral e único passível de ser referido a todos os casos semelhantes.
Por exemplo, o ato de julgar que determinado remédio fez bem a Cálias, que sofria de certa enfermidade, e que também fez bem a Sócrates e a muitos outros indivíduos, é próprio da experiência; ao contrário, o ato de julgar que a todos esses indivíduos, reduzidos à unidade segundo a espécie, que padeciam de certa enfermidade, determinado remédio fez bem (por exemplo, aos fleumáticos, aos biliosos e aos febris) é próprio da arte.
Ora, em vista da atividade prática, a experiência em nada parece diferir da arte; antes, os empíricos têm mais sucesso do que os que possuem a teoria sem a prática. E a razão disso é a seguinte: a experiência é conhecimento dos particulares, enquanto a arte é conhecimento dos universais; ora, todas as ações e as produções referem-se ao particular. De fato, o médico não cura o homem a não ser acidentalmente, mas cura Cálias ou Sócrates ou qualquer outro indivíduo que leva um nome como eles, ao qual ocorra ser homem. Portanto, se alguém possui a teoria sem a experiência e conhece o universal mas não conhece o particular que nele está contido, muitas vezes errará o tratamento, porque o tratamento se dirige, justamente, ao indivíduo particular.”
 

Metafísica, de Aristóteles, edição de Giovanni Reale, tradução de Marcelo Perine, volumes I (Ensaio introdutório), II (Texto grego com tradução ao lado) e III (Sumário e comentários), Edições Loyola (telefone 11 6914-1922).

quarta-feira, 9 de março de 2016

O que é o governo?



Pensamento anarquista. É importante  que sejamos  céticos quanto à esta resposta, afinal não devemos aceitar um único ponto de vista, é importante pensar sob várias perspectivas.