Este blog foi criado para apresentar a filosofia aos meus alunos e a todos os que se interessarem.
O objetivo é fazer com que os jovens possam ter acesso ao conteúdo filosófico de forma lúdica e acessível.
Maria Aparecida Souza Oliveira
Conhece-se com o nome de
Bioética àquele ramo da Ética (ou Filosofia Moral) que se ocupa de promulgar os princípios que
deverá observar a conduta de um indivíduo no campo médico. Contudo, a bioética, não reduz ou se limita somente a entender relativamente ao campo médico, como também
naqueles problemas morais que são suscitados no decorrer da vida cotidiana,
estendendo então seu objeto de estudo e atenção para outras questões como, por
exemplo, o correto e devido trato aos animais e ao meio ambiente.
Ainda que sejam questões a
respeito das quais o homem tem indagado bastante durante sua história, a
bioética é uma disciplina relativamente nova e sua denominação se deve ao
oncologista norte-americano Van Rensselaer Potter, que a utilizou pela primeira
vez no ano de 1970 em um artigo que foi publicado na revista da Universidade de
Wisconsin.
A bioética encontra-se
sustentada por quatro princípios: de autonomia, beneficência, de não
maleficência e de justiça.
O da autonomia supõe
basicamente o respeito para todas as pessoas, assegurando-lhes a autonomia
necessária para que atuem por si mesmas, isto é, como donos de suas próprias
decisões, ainda se tratando de pessoas doentes. Atuar com autonomia sempre
implicará responsabilidade e é um direito irrenunciável, como foi dito, ainda
na doença. No contexto médico, então, o profissional da medicina, sempre deverá
respeitar os valores e preferências do doente porque se trata de sua própria
saúde.
O princípio de beneficência
designa ao médico a obrigação de atuar sempre em benefício dos outros, na qual
assume imediatamente ao se converter em tal. A beneficência implica promover o
melhor interesse do paciente, mas sem ter em conta sua opinião, porque claro,
este não tem os conhecimentos necessários para resolver seu estado como tem o
médico.
Por outro lado, o princípio de
maleficência estabelece o abster-se intencionadamente de realizar ações que
possam causar dano ou prejudicar a outros. Pode ocorrer em algumas
circunstâncias que na busca dessa solução para o paciente se incorra em um
dano. Neste caso, então, onde não há uma vontade de fazer dano, o tema passará
por evitar prejudicar desnecessariamente a outros. Isto implicará ao médico
ostentar uma formação técnica e teórica adequada e atualizada, pesquisar a
respeito de tratamentos, procedimentos e terapias novas, entre outras questões.
E finalmente o princípio de
justiça que implicará no brindar um trato igual a todos para que desta maneira
sejam reduzidas as desigualdades sociais, econômicas, culturais, ideológicas,
entre outras. Ainda que não deva ser assim, é sabido, que às vezes, o sistema
sanitário de alguns lugares do mundo privilegia a atenção de uns e desmerece a
de outros tão só por uma situação social ou econômica, entre as mais
recorrentes, então, isto é ao que aponta este princípio de justiça.
Os principais temas nos quais
se entenderá a Bioética serão o transplante de órgãos, a eutanásia, a
reprodução assistida, o aborto, a fertilização in vitro, a manipulação genética, os problemas ecológicos, do
ambiente e da biosfera.
http://queconceito.com.br/bioetica
Acesso em 03/10/2016.
Epicurus on Happiness - Epicuro e a Felicidade - Vídeo produzido por Alain de Botton
Epicuro envia suas saudações a Meneceu
Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de
fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou
demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de
dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se
dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse
modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está
envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas
que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas
que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a
felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos
para alcançá-la. Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te
transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para
uma vida feliz.
Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem aventurado,
como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela
nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado à sua
bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe
felicidade e imortalidade.
Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a
imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não
costumam preservar a noção que têm dos deuses, ímpio não é quem rejeita
os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos
juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses
não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de
que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios
aos bons. Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a
convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja
diferente deles.
Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e
todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das
sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós
proporciona a fruição da vida efémera, sem querer acrescentar-lhe tempo
infinito e eliminando o desejo de imortalidade.
Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido
de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo portanto quem diz ter
medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque
o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não
deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.
Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós,
justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente;
ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A
morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que
para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no
entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos
males, ora a deseja como descanso dos males da vida.
O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver
não é um fardo e não-viver não é um mal.
Assim como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do
mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que
breve.
Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem não passa de um
tolo, não só pelo que a vida tem de agradável para ambos, mas também porque
se deve ter exatamente o mesmo cuidado em honestamente viver e em
honestamente morrer. Mas pior ainda é aquele que diz: bom seria não ter
nascido, mas, uma vez nascido, transpor o mais depressa possível as portas
do Hades.
Se ele diz isso com plena convicção, por que não se vai desta vida? Pois é livre
para fazê-lo, se for esse realmente seu desejo; mas se o disse por brincadeira,
foi um frívolo em falar de coisas que brincadeira não admitem.
Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso,
nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se
estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não
estivesse por vir jamais.
Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais
e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e
outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são
fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros,
ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar
toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade
do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim
praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo.
Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a tempestade da alma se
aplaca, e o ser vivo, não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem
procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. De
fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua ausência; ao
contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir.
É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida
feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser
humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e a ele
chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.
Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos
qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles
nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos
muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de
suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer constitui um
bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos;
do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre
evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo
com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem
como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem.
Consideramos ainda a auto-suficiência um grande bem; não que devamos nos
satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos com esse pouco caso não
tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a
abundância os que menos dependem dela; tudo o que é natural é fácil de
conseguir; difícil é tudo o que é inútil.
Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais
requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água
produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita.
Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não
só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios
para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que
conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor
aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temor as vicissitudes da sorte.
Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos
prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como
acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam
com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é ausência de
sofrimentos físicos e de perturbações da alma. Não são, pois, bebidas nem
banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos
peixes ou das outras iguarias de urna mesa farta que tomam doce uma
vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda
escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em
virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos.
De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão
pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que
originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe
vida feliz sem prudência, beleza e justiça, e que não existe
prudência, beleza e justiça sem felicidade.
Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é
inseparável delas.
Na tua opinião, será que pode existir alguém mais feliz do que o sábio, que tem
um juízo reverente acerca dos deuses, que se comporta de modo
absolutamente indiferente perante a morte, que bem compreende a finalidade
da natureza, que discerne que o bem supremo está nas coisas simples e fáceis
de obter, e que o mal supremo ou dura pouco, ou só nos causa sofrimentos
leves? Que nega o destino, apresentado por alguns como o senhor de tudo, já
que as coisas acontecem ou por necessidade, ou por acaso, ou por vontade
nossa; e que a necessidade é incoercível, o acaso, instável, enquanto nossa
vontade é livre, razão pela qual nos acompanhara a censura e o louvor?
Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do designo dos
naturalistas: o mito pelo menos nos oferece a esperança do perdão dos deuses
através das homenagens que lhes prestamos, ao passo que o destino é uma
necessidade inexorável.
Entendendo que a sorte não é uma divindade, como a maioria das pessoas
acredita (pois um deus não faz nada ao acaso), nem algo incerto, o sábio não
crê que ela proporcione aos homens nenhum bem ou nenhum mal que sejam
fundamentais para uma vida feliz, mas, sim, que dela pode surgir o início de
grandes bens e de grandes males. A seu ver, é preferível ser desafortunado e
sábio, a ser afortunado e tolo; na prática, é melhor que um bom projeto não
chegue a bom termo, do que chegue a ter êxito um projeto mau.
Medita, pois, todas estas coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite,
contigo mesmo e com teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado,
quer acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre os homens.
Porque não se assemelha absolutamente a um mortal o homem que vive
entre bens imortais.
Tradução baseada na edição de Arrighetti. Epicuro. Opere. Torino, 1973.
[359b –
360a]: “Vamos provar que a justiça só é
praticada contra a própria vontade dos indivíduos e devido à incapacidade de se
fazer a injustiça, imaginando o que se segue. Vamos supor que se dê ao homem de
bem e ao injusto igual poder de fazer o que quiserem, seguindo-os para ver até
onde os leva a paixão. Veremos com surpresa o homem de bem tomar o mesmo
caminho que o injusto, este impulsionando a querer sempre mais, impulso que se
encontra em toda natureza, mas ao qual a força da lei impõe limites. O melhor
meio de testá-los da maneira como digo seria dar-lhes o mesmo poder que,
segundo dizem, teve Giges, o antepassado do rei da Lídia. Giges era um pastor a
serviço do então soberano da Lídia. Devido a uma terrível tempestade e a um
terremoto, abriu-se uma fenda no chão no local onde pastoreava o seu rebanho.
Movido pela curiosidade, desceu pele fenda e viu, admirado, um cavalo de
bronze, oco, com aberturas. E ao olhar através de uma das aberturas viu um
homem de estatura gigantesca que parecia estar morto. O homem estava nu e tinha
apenas um anel de ouro na mão. Giges o pegou e foi embora. Mais tarde, tendo os
pastores se reunido, como de hábito, para fazer um relatório sobre os rebanhos
do rei, Giges compareceu à reunião usando o anel. Sentado entre os pastores,
girou por acaso o anel, virando a pedra para o lado de dentro de sua mão, e
imediatamente tornou-se invisível para os outros, que falam dele como se não
estivesse ali, o que o deixou muito espantado. Girou de novo o anel, rodando a
pedra para fora, e tornou-se novamente visível. Perplexo, repetiu o feito para
certificar-se de que o anel tinha esse poder e concluiu que ao virar a pedra
para dentro tornava-se invisível e ao girá-la para fora voltava a ser visível.
Tendo certeza disso, juntou-se aos pastores que iriam até o rei como
representantes do grupo. Chegando ao palácio, seduziu a rainha e com a ajuda
dela atacou e matou o soberano, apoderando-se do trono. Vamos supor agora que
existam dois anéis como este e que seja dado um ao justo e outro ao injusto. Ao
que parece não encontraremos ninguém suficientemente dotado de força de vontade
para permanecer justo e resistir à tentação de tomar o que pertence a outro, já
que poderia impunemente tomar o que quisesse no mercado, invadir as casas e ter
relações sexuais com quem quisesse, matar e quebrar as armas dos outros. Em
suma, agir como se fosse um deus. Nada o distinguiria do injusto, ambos
tenderiam a fazer o mesmo e veríamos nisso a prova de que ninguém é justo
porque deseja, mas por imposição, pois sempre que acreditamos que podemos
praticar atos injustos não deixaremos de fazê-lo.
De fato, todos os homens creem que a
injustiça lhes traz individualmente mais vantagens do que a justiça, e têm
razão, se levarmos em conta os adeptos dessa doutrina. Se um homem que tivesse
tal poder não consentisse nunca em cometer um ato injusto e tomar o que
quisesse de outro, acabaria por ser considerado, por aqueles que conhecessem o
seu segredo, como o mais infeliz e tolo dos homens. Não deixariam de elogiar
publicamente a sua virtude, mas para disfarçarem, por receio de sofrerem eles
próprios alguma injustiça. Era isso o que tinha a dizer”[1].
[1] Extraído
de : MARCONDES, Danilo. Textos básicos de ética. De Platão a Foucault.
Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 31-2.