quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Thomas Hobbes e o Contrato Social





Thomas Hobbes (1588-1679) foi matemático, teórico político e filósofo inglês. Desenvolveu a organização da sociedade em forma de Estado, a partir da ideia de um Contrato Social.
Hobbes desenvolve suas teorias políticas a partir do cenário em que se encontrava a Inglaterra em 1642, que enfrentava uma Guerra Civil entre os parlamentares e os absolutistas. Nesse período, publicou sua obra “Do Cidadão”, considerada por muitos como uma obra ateísta por apresentar questões desligadas da religião. Posteriormente, em 1651, Hobbes publicou “O Leviatã”.
Conhecido por um racionalismo metodológico e com uma visão competitiva da vida, o autor transcrevia essas características em suas obras. Para ele, o ser humano possuía essa vontade de competir em sua essência natural e por isso considerava que o “homem é lobo do próprio homem”.

               O que é o Contrato Social?
O Contrato é um consenso entre os componentes da sociedade e não como um documento firmado em cartório. Para Hobbes e para os outros contratualistas, a criação do consenso marca uma transição do estado de natureza para o Estado Social. No estado de natureza, o homem possui liberdade e características naturais que nascem com ele. Hobbes tinha uma visão pessimista do homem em seu estado de natureza. Para ele, o natural seria o egoísmo e o homem, sem o Contrato, viveria em guerras permanentes e constantes, exatamente o que estava acontecendo na Inglaterra.


A figura do Leviatã, de Thomas Hobbes

Para acabar com esse cenário violento, o Contrato de Hobbes propõe um governo superior que controlaria as guerras e conflitos humanos. Dessa forma, ele teria todo o poder como governante, que seria transferido dos cidadãos diretamente para ele a fim de manter a vida e paz (sem guerras e mortes), além de controlar o “instinto de lobo” do homem. Essa autoridade com o poder absoluto seria o Leviatã.

Com isto se torna manifesto que durante o tempo em que os homens vivem sem um poder capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição que se chama de guerra; uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens”

(O Leviatã, Capítulo XIII)

Em “Do Cidadão”, Hobbes conflita com a filosofia política de Aristóteles, que considera o homem como um animal social. Para ser um animal social, seria necessário uma cooperação constante entre todos os homens, o que para Hobbes não seria possível acontecer, se o homem não vivesse em dominação do Estado Civil.
O poder deferido ao Leviatã deveria ser absoluto e ilimitado. Essa sentença é clara e presente em todas as obras de Hobbes relacionadas a organização da sociedade e por isso, os súditos deveriam decidir toda a organização do Contrato que seria firmado com espadas, e o Leviatã não teria participação na formação dessas decisões, apenas em colocá-las em prática. O objetivo do Contrato é promover a paz.

Exercícios:
1) UFSJ 2013
Thomas Hobbes afirma que “Lei Civil”, para todo súdito, é:

a- “construída por aquelas regras que o Estado lhe impõe, oralmente ou por escrito, ou por outro sinal suficiente de sua vontade, para usar como critério de distinção entre o bem e o mal”.
b- “a lei que o deixa livre para caminhar para qualquer direção, pois há um conjunto de leis naturais que estabelece os limites para uma vida em sociedade”.
c- “reguladora e protetora dos direitos humanos, e faz intervenção na ordem social para legitimar as relações externas da vida do homem em sociedade”.
d- “calcada na arbitrariedade individual, em que as pessoas buscam entrar num Estado Civil, em consonância com o direito natural, no qual ele – o súdito – tem direito sobre a sua vida, a sua liberdade e os seus bens”.

2) UFU 2012
[...] a condição dos homens fora da sociedade civil (condição esta que podemos adequadamente chamar de estado de natureza) nada mais é do que uma simples guerra de todos contra todos na qual todos os homens têm igual direito a todas as coisas; [...].
HOBBES, Thomas. Do Cidadão. Campinas: Martins Fontes, 1992.

De acordo com o trecho acima e com o pensamento de Hobbes, assinale a alternativa correta.

a-      Segundo Hobbes, o estado de natureza se confunde com o estado de guerra, pois ambos são uma condição original da existência humana.

b-      Para Hobbes, o direito dos homens a todas as coisas está desvinculado da guerra de todos contra todos.

c-      Segundo Hobbes, é necessário que a condição humana seja analisada sempre como se os homens vivessem em sociedade.

d-     Segundo Hobbes, não há vínculo entre o estado de natureza e a sociedade civil.  



3) UEL 2003

“Sabemos que Hobbes é um contratualista, quer dizer, um daqueles filósofos que, entre o século XVI e o XVIII (basicamente), afirmaram que a origem do Estado e/ou da sociedade está num contrato: os homens viveriam, naturalmente, sem poder e sem organização – que somente surgiriam depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras de comércio social e de subordinação política.”

(RIBEIRO, Renato Janine. Hobbes: o medo e a esperança. In: WEFFORT, Francisco. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 2000. p. 53.)

Com base no texto, que se refere ao contratualismo de Hobbes, considere as seguintes afirmativas:

I. A soberania decorrente do contrato é absoluta.

II. A noção de estado de natureza é imprescindível para essa teoria.

III. O contrato ocorre por meio da passagem do estado social para o estado político.

IV. O cumprimento do contrato independe da subordinação política dos indivíduos.

Quais das afirmativas representam o pensamento de Hobbes?


a-      Apenas as afirmativas I e II.

b-      Apenas as afirmativas I e III.

c-      Apenas as afirmativas II e III.

d-     Apenas as afirmativas II e IV.

e-      Apenas as afirmativas III e IV.


4) UEL 2005
“Hobbes realiza o esforço supremo de atribuir ao contrato uma soberania absoluta e indivisível [...]. Ensina que, por um único e mesmo ato, os homens naturais constituem-se em sociedade política e submetem-se a um senhor, a um soberano. Não firmam contrato com esse senhor, mas entre si. É entre si que renunciam, em proveito desse senhor, a todo o direito e toda liberdade nocivos à paz”.

(CHEVALLIER, Jean-Jacques. As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias. Trad. de Lydia Cristina. 7. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1995. p. 73.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o contrato político em Hobbes, considere as afirmativas a seguir.

I. A renúncia ao direito sobre todas as coisas deve ser recíproca entre os indivíduos.

II. A renúncia aos direitos sobre a vida, que caracteriza o contrato político, significa a renúncia de todos os direitos em favor do soberano.

III. Os procedimentos necessários à preservação da paz e da segurança competem aos súditos cidadãos.

IV. O contrato que funda o poder político visa pôr fim ao estado de guerra que caracteriza o estado de natureza.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a-      I e II.

b-      I e IV.

c-      II e III.

d-     I, III e IV.

e-      II, III e IV.


quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Ética dos Fins - Jeremy Benthan e John Stuart Mill


Aula e Atividades - Itinerário Formativo
Filosofia e Sociedade Moderna


Para o Filósofo Jeremy Bentham o cidadão deveria obedecer ao Estado na medida em que a felicidade geral viria como sua contribuição, ou seja, com sua obediência às leis. Esta felicidade geral ou interesse da comunidade em geral, isto é, uma soma dos prazeres e dores dos indivíduos. Assim, a teoria do direito natural é substituída pela teoria da utilidade, e o principal significado dessa transformação é a passagem de um mundo fictício para o mundo dos fatos (real). É no mundo empírico, afirma Bentham, que é possível a verificação de uma ação ou instituição, sua utilidade ou não.
Jeremy Bentham não pensou somente na análise teórica das ideias sobre o homem como ser social e moral. Toda a sua teoria procurou aplicar na prática, dedicando-se a concepção da legislação de acordo com princípios naturais do ser humano, buscando criar leis que se tornariam acessíveis para qualquer pessoa.
Bentham em sua trajetória contou com a colaboração de vários seguidores do utilitarismo, formando uma escola de renovação de ideias. Entre estes, estavam o filósofo James Mill e seu filho John Stuart Mill.

ESSÊNCIA DO UTILITARISMO
O entendimento da teoria sustentada por Bentham deveria levar em consideração os efeitos reais produzidos. A qualificação dos efeitos teria como base a utilidade, sendo o bom aquilo que traz prazer e mau, o que causa dor. Sob o aspecto social o bom e justo é tudo aquilo que tende a aumentar a felicidade geral.

ÉTICA  UTILITARISTA
Este conjunto de padrões morais depende da sua obrigação – indivíduo – em relação a si mesmo. No momento em que se constrói um sólido conjunto de normas, teremos a capacidade de afetar a felicidade daqueles que nos rodeiam: “A ética privada tem por objetivo a felicidade, sendo este também o da legislação. A ética privada diz respeito a cada membro, isto é, à felicidade e as ações de cada membro, de qualquer comunidade que seja; a legislação, por sua vez, tem a mesma meta” (BENTHAN, 1979, p.65)
O segundo passo é a harmonização da ética privada. Quando há compatibilidade de felicidades individuais, estaremos diante de um objetivo comum. Convertendo este saldo positivo, nos encontramos no âmbito máximo da conveniência coletiva.

Contribuição de John Stuart Mill
A utilidade ou o princípio da maior felicidade, como fundamento da moral, sustenta que as ações são certas na medida em que elas tendem a promover a felicidade e erradas quando tendem a produzir o contrário da felicidade. Por felicidade entende-se prazer e ausência de dor, por infelicidade, dor e privação do prazer”. (MILL, 2000, p.49)
Escolhendo entre aquilo que é certo ou errado, o utilitarismo não configura a análise do ser virtuoso, mas aquilo que ele faz ou deixa de fazer. Esta teoria teve um forte impacto nas decisões coletivas, pois buscou em gravar um sentido de direção voltado para o bem-estar da sociedade. E por esta razão, desde a gênese do utilitarismo idealizado por Bentham esta “escola” está vinculada ao reformismo e ao progresso. Toda sua estrutura está voltada a eliminar os males, a começar pelo sofrimento. Aparentemente o critério se constitui a base da teoria utilitarista não é a felicidade individual, mas a multiplicação da felicidade na maior amplitude possível
A teoria do utilitarismo visa a maior felicidade, não do próprio agente, mas a maior felicidade ao maior número de pessoas envolvidas. Também é defendida a nobreza de caráter, avaliada e classificada de acordo com extensão de seus efeitos ao bem comum.
O comportamento moral manifesta-se na forma de hábitos e costumes. O objetivo do estudo foi a influência deste fato na confecção da legislação, desde a motivação, sua vigência e eficácia (efetividade). Insistindo que os indivíduos são os melhores juízes de sua própria felicidade, Bentham teve uma tendência automática em optar pelo ideal da não interferência por parte do governo. Entretanto, reconheceu que as ações individuais de um indivíduo implicaram freqüentemente na felicidade de outro e que os indivíduos não podem ter o incentivo ou a habilidade de coordenar as ações que melhoram a utilidade agregada.

REFERÊNCIAS
FREITAS, Juarez. As grandes linhas da filosofia do direito. Caxias do Sul : UCS, 1986. p.44
BENTHAM, Jeremy. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979 p.65
MILL, John Stuart. O utilitarismo. São Paulo: Iluminuras, 2000. Tradução de: The utilitarism. p.49
FRANKENA, Willian K. Ética. Rio de Janeiro: Zahar, 1969. 143p. (Curso moderno de filosofia). Tradução de Ethics. p.62

Exercícios:

1 - Qual das alternativas abaixo define melhor o princípio básico do utilitarismo?

A) Uma ação moralmente correta é aquela que está de acordo com a regra “não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem para ti”.
B) Uma ação moralmente correta é aquela que produz o maior saldo positivo de prazer ou bem-estar para todos os afetados pela ação, considerados imparcialmente.
C) Uma ação moralmente correta é aquela está de acordo com o imperativo categórico.
D) Uma ação moralmente correta é aquela que gera mais felicidade para o agente.
E) Uma ação moralmente correta é aquela em que a pessoa age com honestidade.

2) Assinale a alternativa que contenha apenas nomes de filósofos utilitaristas:

A) Platão e Stuart Mill.

B) Rousseau e Aristóteles.

C) Kant e Stuart Mill.

D) Stuart Mill e Bentham.

E) Kant e Bentham.

3) Quanto ao conceito de consequencialismo, é correto afirmar que:

A) pressupõe a ideia de que as consequências e as intenções do agente são importantes para avaliar o valor de sua ação.
B) se uma pessoa mentir para alguém, essa sempre será uma ação errada, independente de suas consequências.
C) se uma pessoa tinha uma boa intenção ao realizar uma ação, mas acabou dando errado, sua ação ainda assim está correta.
D) implica a ideia de que apenas as consequências de uma ação são relevantes para avaliar seu valor moral.
E) Nenhuma das anteriores

4) A aplicação do princípio utilitarista que diz que devemos maximizar o bem-estar ou as preferências dos envolvidos na ação exige que o agente utilize, para avaliar se está agindo corretamente,

A) a fé.
B) a razão.
C) a intuição.
D) o imperativo categórico.
E) a emoção.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Identidade, Alteridade e Diversidade





Os conceitos de identidade, alteridade e diversidade são conceitos utilizados no campo da Filosofia, e no campo da Antropologia.

Os três conceitos subdividem-se em algumas categorias como cultura e sociedade. O uso dos conceitos de alteridade e identidade servem como apoio para entender as relações sociais.

Identidade
Identidade é o conceito está ligado às características do grupo social no qual o indivíduo está inserido. Alguns fatores tal como a cultura, a história, o local e o idioma são importantes para que um grupo compartilhe elementos identitários.

A identidade cultural é uma das divisões do conceito de identidade. É definida a partir da cultura que o indivíduo entende como sendo sua, bem como das manifestações culturais que compartilha ao longo da vida como indivíduos.

No mundo são várias as identidades culturais existentes e elas variam de acordo com a história local, as construções sociais estabelecidas e as práticas religiosas. A identidade social e a identidade cultural são desenvolvidas e construídas ao longo do tempo e também fazem parte da construção de identidade nacional que acompanham, em geral, os cidadãos de um mesmo país.

Alteridade
A alteridade expressa e determina a qualidade, estado ou características do outro, ou seja, aquilo que é diferente daquilo que vivemos. A relação entre o eu e o outro é definida então pelo conceito de alteridade. No conceito antropológico o eu só pode ser entendido a partir da interação com o outro.

A noção do outro, assim como os hábitos e a dinâmica social adotados pelo grupo social colaboram para o entendimento e assimilação dos mesmos conceitos no eu.

Por isso, o processo de diferenciação estabelecido entre o eu e o outro é importante para a definição do entendimento do que eu sou, do que o outro é e, portanto, do que não sou. Com isso, a partir do entendimento dessas noções é que se firmam as diferenças entre o eu e o outro.

É importante ressaltar que o conceito de alteridade não tem intenção de destruir ou diminuir a cultura do outro, apenas observá-la para estabelecer diferenças entre a nossa cultura e construções sociais em relação aos mesmos elementos da cultura do outro.
A alteridade pode ser utilizada tanto com culturas e grupos sociais antigos, como no caso de tribos, muitas vezes já extintas, quanto em relação a grupos sociais atuais, detentores de identidades culturais próprias.

Diversidade
A diversidade cultural é definida como os diversos e diferentes aspectos da cultura, como a linguagem, a religião, a culinária, as tradições, os costumes e as maneiras de organização política, familiar e institucional e outros elementos que possam explicar as características próprias de um determinado grupo social.

A diversidade cultural ajuda a entender as diversas manifestações culturais existentes ao redor do mundo. A diversidade cultural marca, portanto, a pluralidade, a diferença e a especificidade das diferentes manifestações culturais ao redor do mundo.

No Brasil, graças à grande extensão territorial podem ser observados diferentes conjuntos culturais. Inclusive, nas diferentes regiões do país elementos estrangeiros são observados nas práticas culturais regionais, de regiões da Europa, Ásia e Oriente Médio, África, etc.

Exercícios:

1- (ENEM/2015)
Quanto ao “choque de civilizações”, é bom lembrar a carta de uma menina americana de sete anos cujo pai era piloto na Guerra do Afeganistão: ela escreveu que – embora amasse muito seu pai – estava pronta a deixá-lo morrer, a sacrificá-lo por seu país. Quando o presidente Bush citou suas palavras, elas foram entendidas como manifestação “normal” de patriotismo americano; vamos conduzir uma experiência mental simples e imaginar uma menina árabe maometana pateticamente lendo para as câmeras as mesmas palavras a respeito do pai que lutava pelo Talibã – não é necessário pensar muito sobre qual teria sido a nossa reação.
ZIZEK. S. Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Bom Tempo. 2003.

A situação imaginária proposta pelo autor explicita o desafio cultural do (a)


A -  prática da diplomacia.

B -  exercício da alteridade.

C -  expansão da democracia.

D -  universalização do progresso.

E -  conquista da autodeterminação.

2- (ENEM/2013)
A recuperação da herança cultural africana deve levar em conta o que é próprio do processo cultural: seu movimento, pluralidade e complexidade. Não se trata, portanto, do resgate ingênuo do passado nem do seu cultivo nostálgico, mas de procurar perceber o próprio rosto cultural brasileiro. O que se quer é captar seu movimento para melhor compreendê-lo historicamente.(MINAS GERAIS. Cadernos do Arquivo 1: Escravidão em Minas Gerais. Belo Horizonte: Arquivo Público Mineiro, 1988.)

Com base no texto, a análise de manifestações culturais de origem africana, como a capoeira ou o candomblé, deve considerar que elas


A -  permanecem como reprodução dos valores e costumes africanos.

B -  perderam a relação com o seu passado histórico.

C -  derivam da interação entre valores africanos e a experiência histórica brasileira.

D -  contribuem para o distanciamento cultural entre negros e brancos no Brasil atual.

E -  demonstram a maior complexidade cultural dos africanos em relação aos europeus.


3-(ENEM/2013)
Própria dos festejos juninos, a quadrilha nasceu como dança aristocrática, oriunda dos salões franceses, depois difundida por toda a Europa.No Brasil, foi introduzida como dança de salão e, por sua vez, apropriada e adaptada pelo gosto popular. Para sua ocorrência, é importante a presença de um mestre “marcante” ou “marcador”, pois é quem determina as figurações diversas que os dançadores desenvolvem. Observa-se a constância das seguintes marcações: “Tour”, “En avant”, “Chez des dames”, “Chez des chevaliê”, “Cestinha de flor”, “Balancê”, “Caminho da roça”, “Olha a chuva”, “Garranchê”, “Passeio”, “Coroa de flores”, “Coroa de espinhos” etc.No Rio de Janeiro, em contexto urbano, apresenta transformações: surgem novas figurações, o francês aportuguesado inexiste, o uso de gravações substitui a música ao vivo, além do aspecto de competição, que sustenta os festivais de quadrilha, promovidos por órgãos de turismo.CASCUDO, L. C. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1976.

As diversas formas de dança são demonstrações da diversidade cultural do nosso país. Entre elas, a quadrilha é considerada uma dança folclórica por:


A - possuir como característica principal os atributos divinos e religiosos e, por isso, identificar uma nação ou região.

B - abordar as tradições e costumes de determinados povos ou regiões distintas de uma mesma nação.

C - apresentar cunho artístico e técnicas apuradas, sendo, também, considerada dança-espetáculo.

D - necessitar de vestuário específico para a sua prática, o qual define seu país de origem.

E - acontecer em salões e festas e ser influenciada por diversos gêneros musicais.


segunda-feira, 8 de abril de 2024

CONSUMO versus CONSUMISMO (Zygmunt Bauman)


Sociologia - Segundas Séries

Zygmunt Bauman (Poznań, Polônia, 19 de novembro de 1925 – Leeds e faleceu no  Reino Unido, em  9 de janeiro de 2017) foi um sociólogo e filósofo polonês, professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e  de Varsóvia.

 “Tentamos achar nas coisas, que por isso nos são preciosas, o reflexo que nossa Alma projetou sobre elas.” Marcel Proust

Consumimos! Desde a aurora de nossa existência, rotineira e ininterruptamente, da hora em acordamos ao momento em que vamos dormir, antes mesmo do nascimento e até após a morte, consome-se.
Mas, uma coisa é o consumo de bens necessários e até indispensáveis à vida e ao bem estar; outra é o consumismo que, desenfreado, excede a necessidade, culminando na profusão de mercadorias, na ostentação do luxo e no descarte do lixo.
Da obra do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, “Vida Para Consumo – A transformação das pessoas em mercadoria” vamos fazer uma breve reflexão sobre o Capítulo intitulado “Consumo versus Consumismo”.
Segundo o autor, o fenômeno do consumo “tem raízes tão antigas quanto os seres vivos (...) é parte permanente e integral de todas as formas de vida (...)”. Mas, enquanto o consumo constitui uma característica e ocupação de todos os seres humanos enquanto indivíduos, o consumismo, é um atributo da sociedade.
Bauman afirma que o ‘consumismo’ é um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros (neutros quanto ao regime), transformando-os na principal força propulsora da sociedade.
O ‘consumismo’ chega, diz ele, quando o consumo assume o papel-chave que na sociedade de produtores era exercido pelo trabalho. Passa a ser central quando “a capacidade profundamente individual de querer, desejar e almejar deve ser, tal como a capacidade de trabalho na sociedade de produtores.
A revolução consumista, diz o sociólogo, é uma questão que exige investigação mais atenta, diz respeito ao que ‘queremos’, ‘desejamos’ e ‘almejamos’, e como as substâncias de nossas vontades, desejos e anseios estão mudando no curso e em consequência na passagem ao consumismo.
Assim, foi-nos convencendo que a posse de um grande volume de bens garantiria uma existência segura, imune aos caprichos do destino: “Sendo a segurança a longo prazo o principal propósito e o maior valor, os bens adquiridos não se destinavam ao consumo imediato – pelo contrário, deviam ser protegidos da depreciação ou dispersão e permanecer intactos”.
No começo do século XX, o ‘consumo ostensivo’, diz ele, portava um significado bem distinto do atual: “consistia na exibição pública de riqueza com ênfase em sua solidez e durabilidade, não em uma demonstração da facilidade com que prazeres imediatos podem ser extraídos de riquezas adquiridas (...)”.
Bens resistentes e preciosos, como joias e palacetes ricamente ornamentados, “Tudo isso fazia sentido na sociedade sólido-moderna de produtores – uma sociedade que apostava na prudência, na durabilidade (...)”.
Mas o desejo humano de segurança e os sonhos de um ‘Estado estável’ definitivo não se ajustam a uma sociedade de consumidores, agora, é insuficiente. Surge a pressa e o motivo é, em parte, o impulso de adquirir e juntar. Mas o motivo mais comum que torna a pressa de fato imperativa é a necessidade de descartar e substituir, aponta Bauman. Entediante, esse enfadonho ‘viciante círculo vicioso’ gera angústia, melancolia.
Mesmo os que encontram uma real necessidade de algo, “logo tendem a sucumbir às pressões de outros produtos ‘novos e aperfeiçoados’”. Vem-nos à mente a imagem do cão correndo em círculos, a perseguir o próprio rabo. E, ao “sentir a infinidade da conexão, mas de não estar engatado em coisa alguma”, sobrevém sorrateira melancolia, o que Bauman aponta como sendo a aflição genérica do consumidor.

Atividades de exercícios 
1- O sociólogo polonês Zygmunt Bauman é autor da obra Vida para Consumo. Sobre o tema, de acordo com Bauman, assinale a alternativa CORRETA.

A-    As relações sociais construídas pelo consumo geram relações cada vez mais sólidas e estáveis.
B-    Os próprios membros da sociedade de consumo são mercadorias de consumo, qualidade que os torna autênticos membros dessa sociedade.
C-    Todas as necessidades dos membros da sociedade de consumo têm um condicionamento biológico.
D-    A sociedade de consumo tem como característica o desestímulo ao desperdício.
E-     O novo indivíduo consumista assume características sólidas e quase sempre posterga o prazer do consumo.

2- UFU 2007
Considere a afirmação abaixo e assinale a alternativa que NÃO a completa corretamente.

O discurso da publicidade reproduz as práticas de uma cultura de consumo, enfatizando o poder das marcas e se impondo como um modelo totalitário. A manipulação ideológica de noções como beleza, felicidade e a transformação do consumo em condição para a aceitação social são indicativos:


    A- da constituição do consumo como um discurso coerente, em que a propaganda se coloca como atividade manipuladora de signos.

     B- de um processo de transformação do próprio consumidor em mercadoria, em que o objeto-signo é agora sujeito.

c    C- da mudança do estatuto do próprio objeto de consumo, que passa a possuir singularidade.

d   D- de que o consumo, ao criar os sentidos do senso comum de forma hegemônica, fortalece as relações sociais.